quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Brasil não tem 510 anos !

Valther Maestro

Você que está lendo este texto não teria dúvida de que o mapa acima se trata de uma forma de representação do território brasileiro. E que para estar no Brasil, basta encontrar-se em qualquer ponto do território definido por essas fronteiras. No entanto o Brasil não foi sempre assim e dizer que o Brasil tem 500 anos não é uma verdade absoluta.

É importante ressaltar que se comemora no dia 22 de abril é a data da chegada oficial dos portugueses nessas terras que posteriormente seriam chamadas de Brasil. Existem historiadores que tentam provar que os portugueses já haviam chegado a essas terras antes da data oficial (22/04/1500), justamente para poder ter certeza da sua existência e verificar as partes que lhe caberiam diante do tratado de Tordesilhas (tratado realizado com a Espanha em 1494).

Após Portugal e Espanha ocuparem esse “canto” do mundo, a parte que coube a Portugal foi batizada de Brasil e o território que pertencia a Portugal não correspondia, inicialmente, nem à metade do território do Brasil de hoje. Ao longo do período em que essas terras foram colônia de Portugal (1500-1822), o domínio colonial expandiu-se em direção às terras a oeste, que pertenciam à Espanha.
O Brasil, como qualquer país, tem uma história, mas que não está restrita somente aos últimos 510 anos. Este país não “nasceu” com o formato e as dimensões com que o conhecemos hoje. E, a rigor, durante o período colonial, estar no que se chamava Brasil era, na verdade, estar num território português.

Acreditar que estas terras só têm 510 anos, é considerar que neste lugar não existia nada, é, portanto, desconsiderar que as dinâmicas da natureza durante milhões e milhões de anos formaram as características físicas dessas terras . É acreditar que não existia ninguém vivendo aqui ou que esses seres vivos não interferiram nos aspectos físicos construindo e reconstruindo os lugares. Achar que o território que forma o Brasil hoje só tem 510 anos é não dar importância alguma a todas essas coisas, e isso não deve ocorrer.

As comunidades indígenas que aqui viviam, apesar de terem sido exterminadas ao longo da história de ocupação dessas terras, contribuíram muito para formar os costumes do povo brasileiro, ou seja, essas pessoas contribuíram na formação da cultura deste país.

Também acreditar que o Brasil tem 510 anos é desconsiderar a importância e as interferências dos povos africanos. As pessoas que foram trazidas para trabalharem nestas terras de forma desumana, trouxeram consigo inúmeros costumes milenares da sua região e, apesar de terem sido escravizados, contribuíram também, de forma bastante importante, para a formação cultural deste país.

É importante notar que só após tornar-se independente em 1822, o Brasil assumiu sua identidade como país. Até esse momento, a geografia do Brasil não passava da geografia de uma parte de Portugal.

De lá para cá, passaram-se quase dois séculos de história de um Brasil independente. Foi nesses quase duzentos anos que o Brasil se formou como país e adquiriu a identidade territorial que suas atuais fronteiras nos revelam.

Portanto, o que menos importa é saber se o Brasil tem 2.000, 1.000, 500 ou 188 anos, mesmo porque, afirmar que qualquer uma das datas é a verdadeira seria desconsiderar as todas contribuições, físicas ou sociais, que interferiam e interferem até hoje na formação deste país.

Então, o que importa ?
O que importa é considerar a forma de ocupação deste território para podermos ir mais além nas nossas conclusões e para poder entender as contradições que hoje estão materializadas em cada canto deste país.

Por exemplo, antes da chegada oficial dos portugueses, existiam entorno de 5 milhões de pessoas nessas terras, divididas em várias comunidades e que ocupavam as terras e definiam seus territórios segundo a sua nacionalidade. Atualmente esta população esta confinada em reservas (quando elas existem) e não ultrapassam 250 mil pessoas.

Também nos últimos 510 anos podemos observar que inúmeras cidades foram construídas e que as outras formas de vida que aqui estavam foram sendo aniquiladas gradualmente e substituídas por uma agricultura que atendia a certos interesses e por uma pecuária que atendia a certos hábitos alimentares, isso lógico, em nome do progresso e da civilização.

Não adianta agora chorar pelos 92% de Mata-Atlântica que foram retirados, ou pela morte de animais que nem foram catalogados e estudados pelo homem e que poderiam de certa forma ajudar na construção de uma forma mais digna para a vida dos seres humanos de todo o planeta na atualidade (não podemos nós esquecer que a biotecnologia e o estudo do DNA hoje são responsáveis pela descoberta da cura de inúmeras doenças).

De floresta para campo e de campo para cidade, estas são as principais características na forma de ocupação e construção dos espaços do país Brasil, relacioná-las e compreender essas mudanças é um fator determinante para chegar a inúmeras conclusões sobre o que somos e como vivemos. Posterior a esse processo, o da compreensão, a realização de ações que possibilitem a mudança é uma decorrência natural e assim não ficaremos só “chorando pelo leite derramado”.

As crianças e adolescentes conseguem visualizar “alternativas” para o nosso país e isso é extremamente positivo. Gerar essas possibilidades é entre muitos, um dos papéis da escola. Possibilitar a mudança, sistematizando os elementos para que os estudantes consigam traçar os rumos para sua vida e para a sociedade a qual estão inseridos, é extremamente gratificante. Por isso vamos a um exemplo.
“Era uma vez, uma cidade chamada Richola. Nela morava uma menina chamada Rixa. Aos 12 anos ela fugiu de casa e foi viajar. Comprou sua passagem e foi para outra cidade chamada Françolândia. Lá ela descobriu que a cultura era diferente da que estava acostumada.
Um dia ela estava muito feliz e alugou um navio. Ela estava passeando quando derepente, veio uma correnteza e a levou. Rixa bateu com a cabeça em uma pedra, quando acordou não estava mais em Françolândia, e sim em São Ruínas.
Rixa já estava com 14 anos, e era bem grande para se cuidar, e tinha muito dinheiro para gastar. Então comprou um carro e foi passear, mas como não sabia onde estava se perdeu.
Passa que passa noites, e Rixa estava dirigindo, até que acha uma pessoa. Ela pergunta onde está e o velhinho responde que ali era ChuaFurby.
Rixa se diverte muito lá. Porque lá tem muitos parques aquáticos e as pessoas respeitam as outras. Surge muitos passeios de trem, como ela não fica fora de nada ela vai.
Rixa chegou em Framatal das Moitas. Ela adorou essa cidade, em cultura, respeito, solidariedade, etc. Rixa começou a perceber que o dinheiro não é tudo na vida. E viveu em Framatal das Moitas, o resto de sua vida.
Jefferson , 5ºB
Os estudantes da 5º série tinham que construir um país imaginário, um mapa, um personagem e uma história para esse personagem. Nesta atividade os alunos conseguem desenvolver inúmeras habilidades, entre elas a construção do conceito de fronteira.

É justamente por não ter o conceito de fronteira bem definido que muitas pessoas acreditam que o Brasil foi sempre assim, que sempre teve as mesmas dimensões e o mesmo formato. Por nunca ter criado sua própria história e se fazer integrante desse processo é que muitos brasileiros acreditam que somos “um país menino, diante das nações que tem milênios”.

Acreditamos que quando este processo se desenvolve na escola, na casa, nas comunidades e passa a fazer parte do cotidiano das pessoas, consegue-se chegar a autonomia. Autonomia e Liberdade “coisas” básicas que estão faltando em nossas ações para que possamos acreditar e concretizar as mudanças tão necessárias para esse país. E quando nossos jovens realizam isso de maneira natural conseguimos enxergar a esperança, sentimento que para muitos já se acabou, mas que na verdade pulsa em todas as cabeças desse povo.

Isso é o que importa, a compreensão dos fenômenos espaciais que estão materializados neste país e a manutenção dos sonhos para a conquista da cidadania.


Reflexões Sobre a Modernização

O uso da categoria “Modernização” esta normalmente relacionada a tudo aquilo que consideramos como Moderno. Comumente dizemos, modernizar é chegar a um conjunto de medidas que, de certa forma, transformam a dinâmica de uma área. Provocar deliberadamente a mudança, a ruptura com o antigo é, de alguma forma, transformar as antigas paisagens em novas, isso se dá, a partir de processos que criem novas dinâmicas, novas ordenações, que se materializarão no espaço.

A dinâmica a que estamos nos referindo, tanto pode estar relacionada aos fenômenos da natureza, quanto às maneiras de viver das sociedades humanas.

A natureza sempre foi e será a responsável por um grande número de transformações espaciais, que podem ser observadas ao longo da formação do Universo, do Planeta, das formas de relevo etc.; sempre criando novas paisagens, estas mais modernas que as anteriores, sepultadas pela própria dinâmica da natureza.

Entretanto, as sociedades humanas também foram e são responsáveis por um grande número de mudanças nas paisagens do planeta. Estas transformações, na nossa concepção, estão diretamente vinculadas com a maneira de viver, produzir e ordenar seus espaços, que cada uma delas desenvolveu no decorrer de sua história, portanto, na medida que, novas relações sociais de produção tomavam o lugar de uma anterior, estas se tornavam mais modernas.

O feudalismo, suas formas de ordenações espacial e social eram mais modernas que o imperialismo romano. Entretanto, o feudalismo deixou de ser moderno após a formação dos Estados Nacionais, do Capitalismo Comercial, do Absolutismo e do Renascimento; a ruptura dessa modernidade ocorre com o surgimento dos ideais do Iluminismo e com o advento do Capitalismo Industrial.

Com a perspectiva de sustentar a idéia desse mundo moderno a partir do capitalismo industrial, utilizaremos as seguintes reflexões:
“ O que é moderno ? ...Moderno refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência” ( Giddens, 1991)
Acompanhando o frenético ritmo de “desenvolvimento as forças produtivas”, o tempo social distanciou-se das interferências provenientes da Natureza, sobrepondo-se a elas. Ele encontra seu símbolo quase paradigmático no relógio atômico do século XX, que assinala a passagem dos segundos, minutos, horas, dias, meses e anos, ativado por uma central própria de energia, sinal que o tempo da Natureza foi banido do tempo social...
O passado perdeu seus sentidos significativos em um mundo no qual o próprio presente tornou-se “um instante fugidio”, um lapso “que vai do passado para o futuro e transforma o futuro em passado”. O antes e o depois, tornam-se marcos de uma marcha processual na qual o futuro, assim que é capturado pelo presente, é rapidamente erodido e transformado em um aluvião composto de partículas cuja inteligibilidade, uma vez desfeito o sentido organizador do presente, desaparece. Os eventos, sucedendo-se rapidamente, são metamorfoseados em simulacros, encarcerados em um caleidoscópio que virtualiza seu sentido, fluindo por breves momentos perdidos na voragem de um tempo dominador e inflexível. Sinteticamente, a modernidade é um modo de vida em que tudo, um dia, será passado” (Waldman,1994)

As reflexões mencionadas anteriormente, garante-nos sustentar a análise sobre a modernização, utilizando-se da maneira de viver sustentada nas relações sociais de produção capitalista. Esse é o fator determinante da ruptura com o antigo modo de produção e ordenação espacial, e portanto, como elemento de formação do Mundo Moderno.

Esse processo que não é linear e muito menos homogêneo, na sua expansão espaço-temporal, não ocorreu de um momento para o outro, em escala mundial e nem mesmo em escala local. Mas, na medida que, avança o seu ritmo, ele se expande para todos os lugares do planeta, permitindo-nos concluir que atualmente o Mundo é Moderno.
“Rompeu-se com a concepção medieval de natureza, mas não todavia com a concepção divina de homem. Mesmo na nova natureza Deus permanece como essência do mundo, sendo ele que nele aparece agora na forma da razão geométrica. Nesse novo conceito a natureza tem leis de movimento intrínsecas, suas próprias leis de movimento, mas no seu conjunto é um grande relógio (metáfora que se empresta generalizadamente para o todo da natureza a partir dos movimentos da Terra) e Deus o grande relojoeiro.
Até o Renascimento o mundo se distingue entre o sub e o supralunar... Com a revolução da Física a natureza passa a ser um conjunto de corpos de extensão definida (o espaço cartesiano), animados pelo movimento mecânico, esse movimento é uniformemente governado do nível macro (corpos celestes) ao nível micro (corpos da superfície terrestre) pela Lei da Gravidade, uma lei universal...
Estamos na modernidade, longe então da relação natural-sobrenatural medieval, de fronteiras fluidas, e vivendo no interior de uma relação natureza-espírito de fronteiras demarcadas. De uma natureza confusamente indivisa, passamos para uma natureza separada do espírito. E para um homem inteiramente defrontado com um mundo de estranhamento” ( Moreira, 1993).

As leis são universais, o tempo é universal, a natureza perde sua especificidade e ganha na sua aparência uma nova essência, transforma-se em elemento de manutenção do sistema - a matéria-prima.

Esse processo, que inseriu todos os lugares do planeta no mesmo sistema produtivo, e que nos dá suporte para dizer que o mundo é moderno, tem como base para a sua existência a formação de espaços desigualmente desenvolvidos. Este processo provoca a formação de espaços diferentes inseridos dentro da mesma lógica produtiva, dentro de um mesmo ritmo e fluxo de produção.

Esta última afirmação, ajusta-se de modo adequado as citações de Neil Smith, às quais demonstram mais um elemento de formação do mundo moderno.
“Debaixo da ordenação do processo de acumulação o capitalismo como um modelo de produção deve-se expandir continuamente para poder sobreviver. A reprodução da vida material fica continuamente dependente da produção do valor excedente. Para este fim, o capital se volta para a superfície do solo em busca dos recursos materiais; a natureza torna-se um meio universal de produção, de modo que ela não somente prove o sujeito, o objeto e os instrumentos de produção, mas ela é em sua totalidade um acessório para o processo de produção.
Ao expandir sua busca de mais-valia relativa, o capital é levado a transformar os espaços exteriores, relativamente subdesenvolvidos, em espaços de produção e acumulação. Por outro lado, pressionado pela constante ameaça de super acumulação, o capital tenta transformar os lugares sem mercados para suas mercadorias, em locais de consumo. Mas não pode fazer as duas coisas, porque pode transformar as sociedades subdesenvolvidas em locais de consumo, somente desenvolvendo-os e elevando os salários para facilitar o consumo. Há uma contradição entre os meios de acumulação e as condições necessárias para a acumulação ocorrer, apresentando nítidos contornos geográficos” (Smith, 1988)
O modo de viver sob a égide do capitalismo sustenta-se em uma dicotomia, pois a mundialização dessa ordenação territorial e social insere os diferentes lugares num mesmo ritmo, nas mesmas leis universais, em uma mesma relação com a natureza, materializando-se de forma desigual pelos espaços mundiais.

Esse modo de produção, onde uma de suas características é a relação de dominação e o jogo de forças entre o homem e a natureza, cria espaços desigualmente desenvolvidos, mas combinados entre si, justamente para sustentar todo o processo produtivo e sua respectiva ordenação territorial. Nossa análise ganha base de sustentação nas reflexões de Maurício Waldman:

“A expansão do padrão civilizatório ocidental por todos os quadrantes da Terra, implantou um ritmo temporal que foi transformado no primeiro tempo mundializado da história. Este ritmo, que é a base do “MC Mundo”, da “Aldeia Global” da “Economia Mundo” e de uma miríade de outras expressões esculpidas para denotar sua aversão à autarquia e ao isolamento, ao derrubar as “Muralhas da China”(Marx/Engels) e desenvolver todas as formações sociais regradas por injunções de tempos não-lineares, não-progressivos e não-quantitativos, transformou todos os homens, dos que habitam as ruidosas e cintilantes metrópoles da modernidade, ao mais longínquo sítio do Deserto Australiano e dos Mares dos Borcais, em peças integrantes de um gigantesco maquinismo, cujas engrenagens já não buscam, como as “máquinas celestiais” de outrora a perseguição do eterno movimento do Sol, da Lua e das estrelas, mas sim, de um tempo artificial cuja única referência é si mesmo” (Waldman, 1994).

Não são todas as reflexões feitas sobre o desenvolvimento das sociedades que atuam neste campo de análise conceitual. Estas diferenças de reflexões na geografia se tornam mais explícitas devido a própria história do desenvolvimento desta ciência, a qual se observa muito bem, por exemplo, nas reflexões de Massimo Quaini*.

O determinismo é uma das correntes de pensamento que não trabalham com este campo de análise. A geografia brasileira sofreu uma grande influência destas idéias que foram transmitidas pelos pensadores brasileiros para toda a sociedade, principalmente, nos livros didáticos e nos meios de comunicação, veículos de propaganda da ideologia hegemônica, sustentada no “jargão” da segurança e do desenvolvimento, possuindo como matriz a ideologia positivista da Ordem e Progresso, presente em nossa “Bandeira de Luta”. Desse modo, não é difícil encontrar materializado no senso comum de um grande número de pessoas a idéia de que o Brasil não é um país Moderno e, portanto, as cidades também não seriam representantes dessa modernidade.
“Desta forma, a cidade moderna, bastião do tempo, prótese dos fluxos, concreção da exclusão, ganha contornos e atributos não previstos por um imaginário preocupado com a justificação ideológica da modernidade enquanto uma contraposição “ao atraso”, “à barbárie”, “à imutabilidade” e “à estagnação”. Não sem motivo, os administradores e planejadores urbanos referem-se corriqueiramente a estes espaços, em nível de seu universo vocabular e conceitual, como áreas de crescimento dito “desordenado”, aparentemente alheios ao fato de que o que se chama desordem, é apenas a ordem do possível, já que nada é desordenado” (Waldman, 1994).
Admite-se que: uma parcela da sociedade brasileira, o espaço constituído nas grandes metrópoles, algumas áreas de produção agrícola mecanizadas, algumas relações de consumo, fluxo etc., são modernas. A contraposição a modernização, e a existência no território brasileiro de vários lugares tidos como atrasados, e facilmente descritos pelo grande número de favelas, pelos menores de rua, pelos vendedores ambulantes, a prostituição, os cortiços etc.

A criação de uma concepção que trabalha com o espaço dual, ou a dualidade do desenvolvimento econômico, entra em choque com a nossa concepção, pois rompe com a totalidade da modernidade e passa a colocar esta modernidade a partir dos espaços desigualmente desenvolvidos.

Além de colocar em choque a modernidade, esta análise dos espaços, a partir da qualificação, enquanto modernos ou atrasados, novos ou tradicionais, serviu para desenvolver o conceito de desenvolvimento e subdesenvolvimento, ou ainda, a criação do chamado “1º Mundo” em contraposição ao “3º Mundo”.

Para nós, esta qualificação é tão errada quanto considerar que algumas áreas do mundo são modernas, pois qualificam os países somente por um ponto de vista, ou seja, só analisa e compara os países pelo ângulo do desenvolvimento industrial, não utiliza a totalidade para desenvolver o conceito. Essas concepções de geografia de vários cientistas, são questionadas por Yves Lacost:
“Os qualificativos de atrasado, arcaico ou tradicional servem a certos autores para caracterizar a situação econômica e social dos países subdesenvolvidos; comparam-na àquela Europa pré-industrial. No entanto, em nossos dias, esses países se distinguem da Europa pré-industrial por dois fenômenos muito modernos: seu enorme crescimento demográfico e o papel econômico considerável que neles desempenham as grandes firmas mundiais... Os autores que somente querem ver nos países subdesenvolvidos formas de sociedades ditas “tradicionais” e aqueles para os quais o colonialismo é o culpado da presente situação, são unânimes em fazer da fraqueza da industrialização a causa e a maior característica do subdesenvolvimento. Assim, podemos acreditar que a industrialização e o crescimento econômico constituem os remédios necessários e suficientes. entretanto, a indústria é forte na África do Sul e está em plena expansão em grande número de países do Terceiro Mundo; todavia, para a massa das suas populações as dificuldades não foram atenuadas, muito pelo contrário... Foi essa industrialização recente e moderna que conduziu alguns autores a determinar o subdesenvolvimento com um ‘dualismo” econômico e social, resultante da inarticulação entre o setor moderno e um setor tradicional da economia; portanto este último não poderia se beneficiar dos progressos do outro” (Lacoste,1987).
Essas reflexões que, sem dúvida reconhecem a existência de espaços com níveis de desenvolvimento diferentes, resultantes de um atraso na evolução do seu sistema produtivo, com certeza sustentam os conceitos nas teorias do espaço dual, que no Brasil ou em São Paulo, mais precisamente, são facilmente descritas pelas diferenças gritantes entre as regiões Sul-Sudeste em contraposição as Norte-Nordeste, ou ao Jardins (Zona Sul) em contraposição a Guaianazes (Zona Leste).

Essas concepções, que poderiam levar-nos a algumas conclusões, como por exemplo, de que a Modernização da sociedade brasileira ocorreu de forma parcial, serão abandonadas por nós. Na nossa concepção, as desigualdades espaciais são frutos de um mesmo processo que desenvolve uma área em cima do subdesenvolvimento de outras, por não existir riqueza sem pobreza. Estas problemáticas surgem após a expansão do modo de produção capitalista e com a modernização do mundo, como já foi visto.

Ao concluir esta abordagem sobre a modernização, podemos dizer que não existem espaços mais ou menos modernos, o que existem são espaços desigualmente desenvolvidos e combinados entre si, pois esta ordenação garante a manutenção do sistema produtivo. Assim como em Krakatoa, onde a erupção do vulcão provocou mudanças extraordinárias que foram notadas em todo o mundo, a expansão do modo de produção capitalista, seus ritmos, suas relações sociais e seus fluxo, a Modernização, se dá em todas as áreas, pois notamos transformações em todos os cantos do planeta.

Brasil: Um País Moderno

Os primeiros caminhos que levaram à construção do chamado mundo moderno estruturam-se na conquista dos territórios indígenas e posteriormente na formação do Brasil. Podemos afirmar que o Brasil, como todos os demais países hoje conhecidos, formaram-se a partir do processo relacionado basicamente com a decadência do feudalismo e a expansão européia.

As novas formas de produzir, não mais baseadas nas relações servis e na cultura de subsistência, implicaram buscar novas fontes de mercadorias, novos territórios que suprissem o iniciante mercado europeu.

Ao exercer seu poder político sobre as novas terras, descobertas após a expansão marítima e comercial, os europeus produziram transformações profundas nas relações sociais dos povos conquistados. A expansão européia que se iniciou na século XV, não gerou apenas uma política de ocupação, mas várias.

Esse processo de expansão foi, por outro lado, a condição necessária para que se acumulassem riquezas na Europa suficientes para a efetivação da Revolução Industrial.

Essa maneira de viver, produzindo e ordenando os espaços sob a óptica da industrialização, gerada na Europa, alcançou tal grau de avanço, que domina atualmente, direta ou indiretamente, o mundo todo, não restando mais territórios a conquistar. Cada país, cada porção do planeta desempenha hoje um papel determinado no contexto do modo de produção capitalista. Alguns produzem matérias-primas, outros manufaturas; alguns fornecem mão-de-obra barata, outros não de obra altamente qualificada; certos territórios concentram indústrias, outros grandes campos agrícolas. Essa característica assegura-se na reflexão abaixo:
“O mundo moderno apresenta-se, dessa maneira, ao mesmo tempo uno e dividido. Uno porque todos os povos, em todos os cantos, estão de uma forma ou de outra respondendo às necessidades da produção industrial - pela concentração de fábricas, pela produção agrícola ou como consumidores. E dividido porque os tipos de fábricas instaladas em uma região são diferentes das que se encontram em outras; os tipos de minérios ou de produtos agrícolas variam de lugar para lugar; principalmente, não é igual a história de todos os povos” (Pereira, 1994).
O Brasil situa-se no contexto capitalista, é um entre vários Estados-países, nos quais essa maneira de viver, de ordenação territorial, materializa-se de forma direta. Realizaremos, então, uma reflexão que objetiva provar esta hipótese a partir das últimas décadas desse processo histórico, especificamente no período pós-64.

O processo de industrialização, que se iniciou no começo deste século, tornou-se mais intenso, na medida em que, era necessário aos centros da modernização, garantir a sua dominação nos chamados países de economia periférica. O desenvolvimento das infra-estruturas básicas (estradas, portos, sistema ferroviário, usinas hidrelétricas etc.) e o desenvolvimento das indústrias de bens-de-capital e de bens de produção possibilitaram mais tarde, a entrada das multinacionais.

Na década de 30 iniciou-se a intensificação da industrialização brasileira. O Brasil até então era um país tipicamente agrário. Nota-se, então um processo acelerado de transformações, uma nova ordenação territorial começa a se materializar, a caminho do desenvolvimento industrial, depois de muitos anos com a produção centrada na mesma dinâmica, a produção cafeeira.

As mudanças no modelo de produção sustentadas, a princípio, pela crise do café, faz ruir velhas estruturas, velhas ordenações. Após 1930, duas classes sociais começam a se delinear com mais força no processo produtivo: a burguesia e o proletariado.

Essas medidas que inseriram o Brasil de forma menos periférica no processo de globalização da maneira de viver da sociedade moderna, devido ao ritmo imposto pelas fábricas, proporcionaram também uma transformação nas paisagens.

Essas profundas mudanças em sua estrutura produtiva transformaram, o Brasil, de um típico produtor de produtos primários e com uma população majoritariamente concentrada na área rural, em um país produtor de produtos industrializados, com um setor de serviços que apresenta em extraordinário ritmo de crescimento, e com uma população em processo acelerado de deslocamento para os grandes centros urbanos.

Estas transformações refletidas nas paisagens provocaram mudanças na ordenação territorial e no comportamento das pessoas, ou seja, seu cotidiano altera-se consideravelmente. As paisagens revelam que essa modernização aumenta a diferença das áreas desigualmente desenvolvidas, isto é, áreas que revelam um conflito aparente, uma contradição entre o moderno e o tradicional, entre o novo e o velho, entre o campo e a cidade, entre o patrão e o operário, entre o empregado e o desempregado, entre a moradia e a submoradia etc.

No início da década de 60, pouca gente pensaria em uma crise econômica e política no Brasil. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial o país era dominado por um estado de otimismo, que nos últimos anos da década de 50 se transformou em euforia.

Após 1961, o quadro foi sofrendo alterações, e o otimismo cedeu lugar as dúvidas em relação ao processo e ao modelo de desenvolvimento adotado. O país foi paulatinamente entrando em uma conjuntura de crise, na qual as dificuldades superavam as soluções.

Esta crise assumiu fundamentalmente um caráter econômico e político, apesar de seus reflexos desencadearem uma crise cultural e social.

Para superar a crise no setor industrial e garantir o crescimento econômico, o Estado criou incentivos para atrair investimentos estrangeiros diretos a curto prazo e ao mesmo tempo investiu pesadamente em infra-estrutura, promovendo a ampliação da CSN, da Petrobrás e do setor estatal de produção de energia elétrica.

Até o final dos anos 60, a produção de bens de capital cresceu de modo significativo, principalmente nos ramos de máquinas - ferramentas e equipamentos.

As condições geradoras desse processo de crescimento da economia estão ligadas a medidas de políticas implementadas pelos governos militares pós-64, que tinham como objetivo principal, afastar o enigma da crise, substituir as importações e transformar o Brasil em um país exportador de bens de consumo.

Essas medidas incluíram explicitamente o arrocho salarial como base de sustentação para tal modelo de desenvolvimento. Os salários foram violentamente comprimidos, sobretudo dos trabalhadores menos qualificados. Gerou-se assim uma concentração de renda muito intensa, responsável pela formação de uma camada da população que, não afetada pelo arrocho, desfrutou de alto poder aquisitivo.

Uma outra medida também tomada pelo governo militar foi afrouxar a legislação sobre o capital estrangeiro e a implementação de medidas de incentivo à exportação. Houve assim um grande interesse por parte de empresas estrangeiras em investir no Brasil, provocando maior entrada de divisas e, ao mesmo tempo, um constante endividamento externo.

Esse conjunto de medidas proporcionaram , enfim, a implantação de uma política econômica intimamente ligada à economia capitalista internacional. A produção de bens de equipamentos e de bens intermediários ficou em plano secundário, enquanto deu-se prioridade aos setores de bens de consumo e para a construção civil, que apresentaram um extraordinário crescimento.

O período que compreende os anos de 1969 e 1973, caracteriza-se pelo crescimento acelerado da economia, as taxas superiores a 10% ao ano, e nele ocorreu o que se denominou “milagre brasileiro”. Na verdade, o verdadeiro milagre era que a maior parte da população conseguia sobreviver com salários inferiores a 70 dólares por mês.

Em 1973, o governo federal, preocupado com o “estrago” que o desequilíbrio no abastecimento interno de bens de equipamentos e intermediários poderia provocar no modelo de abastecimento adotado, formulou o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND). Esse plano propunha-se a corrigir os desequilíbrios setoriais existentes e elegia como prioritários os setores de bens intermediários, energéticos e de equipamentos, visando tanto o abastecimento do mercado interno quanto as exportações.

Assim, grande parte das empresas nacionais inicia a produção de bens sem desenvolver a tecnologia dos produtos e seus processos, que são comprados no exterior. O desenvolvimento industrial experimentou assim ganhos imensos em termos de produtos, às custas, porém, do aumento da dependência econômica e tecnológica.

As multinacionais instaladas no País não apresentavam um grande interesse em desenvolver suas pesquisas internamente, nem mesmo o governo brasileiro as induzia a isso. Para elas era preferível fazer isso onde se localizam suas matrizes e depois enviar a tecnologia para as subsidiárias, que terão apenas o trabalho de adaptá-las às condições de uso locais.

Estas diretrizes, em relação ao modelo de desenvolvimento colocado em prática no Brasil era extremamente definido por seus idealizadores, no entanto, eles já apontavam a crise que assola atualmente a sociedade brasileira, e já mostravam um caminho a ser seguido, o neo-liberalismo. Tais diretrizes se sustentam nas reflexões de Golbery do Couto e Silva.
“A respeito desse problema de empresas transnacionais, como está-se dizendo agora, devemos ter presente que o Brasil é um país de poupança bastante baixa e estamos, portanto, defronte a um certo dilema quanto aos recursos para o desenvolvimento. Poderemos nós com recursos próprios desenvolver o país? Sim. Mas vamos levar demasiado tempo! e passar por sacrifícios muito grandes! A poupança estrangeira, em certa medida, é indispensável para que asseguremos o próprio processo do desenvolvimento , a fim de atender àquela preocupação mencionada em anotação anterior, do atendimento necessário aos novos contingentes de jovens que vêm ao mercado de trabalho. Então, sem auxílio da poupança externa, o país poderá se desenvolver: outros têm tentado isso e conseguido, mas com sacrifícios muito grandes e num prazo excessivamente largo para a premência de nosso caso.
A poupança externa que nos venha de outras companhias -transnacionais ou não - estrangeiras talvez represente o acréscimo crítico ao crescimento do PNB.
Quando ao problema de soberania, o que me parece é que há setores em que, de forma alguma - segundo um princípio que está na Constituição e que todos obedecemos - há setores em que, absolutamente, não se deve permitir ingerência estrangeira e há outros que se poderão liberalizar mais ou menos. Aliás, entendo que isso é variável com o tempo. Algum setor hoje com tal características, poderá, amanhã, deixar de ser altamente nacionalizado; poderá admitir a presença estrangeira. E vice-versa.
Outro aspecto a levar em conta neste assunto é a transferência de tecnologia, porque, a engenhosidade brasileira será capaz de inventar muitas coisas, mas certamente vai ter uma dificuldade desnecessária para inventar coisas que já estão inventadas. Se for possível adquiri-las a preços mais baratos do que o de um esforço longo e penoso, será sempre melhor. Cuidemos daquilo que é específico da nossa economia autóctone - tecnologia do sisal, etc.”
(Silva, 1981).
A crise eminente que se materializava no país principalmente no campo social, onde o número de favelados e encortiçados aumentou consideravelmente nesses anos, os conflitos nos centros urbanos materializam-se de forma mais presente, a mortalidade não diminuiu e nem mesmo o analfabetismo conheceu seu fim, entra em choque com o desenvolvimento de alguns setores.

Nota-se, por exemplo, que alguns bilhões de dólares foram investidos na ampliação do parque siderúrgico, na construção de várias hidrelétricas, na ampliação do sistema rodoviário, em um ambicioso projeto e geração através de usinas nucleares, entre outras obras.

Essa divergência aparente no desenvolvimento da modernização, pode ser questionada por alguns como uma não modernização ou ainda como uma modernização parcial. No entanto, como já vimos, o desenvolvimento brasileiro ocorre justamente com essa diretriz, ou seja, a partir do desenvolvimento desigual e combinado.

Podemos tornar como exemplo os cortiços e as favelas, formas de habitação tipicamente modernas, que começam a delinear sua ordenação concomitantemente a concentração industrial nos centros urbanos em função do desenvolvimento industrial. Essa concentração populacional assegura a formação de um exército de reserva, com o objetivo principal de manter os salários baixos. Não podemos esquecer que os excluídos são a base de sustentação do modo de produção capitalista.

Essa dicotomia é facilmente percebida nos grandes centros urbanos brasileiros, onde a pobreza convive lado a lado com a ostentação. Esse conflito é resultado do modelo de modernização colocado para a sociedade brasileira, e intensificado , pós-64.

Poderíamos aqui destacar um número muito grande de reflexões que asseguram nossas afirmações, mas destacaremos a seguir trechos de uma obra fundamental sobre esta problemática.
“O intenso crescimento econômico da cidade de São Paulo tem sido acompanhado da deterioração das condições de vida de amplas parcelas de sua população. A interligação entre o processo de crescimento urbano e o aumento dos “problemas urbanos” tornou-se tão visível que há alguns anos, um prefeito chegou a inverter o célebre slogan ufanista da cidade, propondo : São Paulo deve parar! Referia-se principalmente S.Ex.a. ao déficit de serviços e obras públicas, cujo crescimento era o mais rápido do que o das medidas possíveis para solucioná-lo e até mesmo do que o das previsões do planejamento...A noção de que o progresso da cidade tem um preço, que deve ser pago por seus habitantes, vem sendo insistentemente repetida a propósito dos mais variados problemas: da poluição ambiental às carências do abastecimento, das dificuldades de transporte às más condições de habitação, da insuficiência do lazer ao aumento da criminalidade...Com a intensificação do crescimento industrial o número de trabalhadores aumentou rapidamente. Do ponto de vista das empresas, o importante era contar com uma força de trabalho abundante e barata, que permitisse produção de um excedente elevado. A aceleração do fluxo migratório iria permitir a formação de um excedente de força de trabalho na cidade, tornando desnecessária a fixação do trabalhador na empresa. Por outro lado, o crescimento da população trabalhadora intensificou a pressão a oferta de habitações populares. Ao mesmo tempo, valorizaram-se os terrenos, tanto fabris como residenciais, tornando-se inconveniente para as empresas a construção de vilas operárias... Favelas, as casas precárias da periferia e cortiços abrigam basicamente as classes trabalhadoras, cujas condições de alojamento expressam a precariedade dos salários. Essa situação tende a agravar-se, na medida em que se vêm deteriorado os salários. Para cobrir os gastos básicos, considerados mínimos - com nutrição, moradia, transporte, vestuário etc.- o trabalhador que recebe salário mínimo deveria atualmente trabalhar 466 horas e 34 minutos mensais, isto é, 15 horas e 55 minutos durante 30 dias por mês... A lógica da acumulação que preside ao desenvolvimento brasileiro recente apoia-se exatamente na dilapidação da força de trabalho. Na presença de uma vasta reserva de mão-de-obra e na ausência de uma sólida organização sindical e política da classe operária, tornou-se fácil aumentar as taxas de exploração. O desgaste de uma força de trabalho subnutrida, em jornadas de trabalho prolongadas e em espinhosas condições urbanas de existência, torna-se possível na medida que a maior parte da mão-de-obra pode ser prontamente substituída... Não são poucas as análises que mostram o caráter “mecânico”, “automático”, “alienado” do comportamento popular nas sociedades de massa. É fácil entender que se sublinhe a apatia política quando se sabe que, ao lado da limitação coercitiva das formas de organização e expressão social, as classes dominantes constróem uma espécie de “cultura da ilusão”. O progresso técnico nos meios de comunicação, o fascínio da TV e a rigidez do sistema político são, sem dúvida, expectativas sempre diferidas “o que eu não posso fazer , meus filhos farão; o futuro será melhor que o presente etc). A ideologia da propaganda faz do consumo -inexistente para a maioria - o valor maior na realização cotidiana. Chama a atenção especialmente a impostura que consiste na criação de uma atmosfera de consumismo numa realidade de carência, a partir da ampla difusão publicitária de artigos de luxo em veículos de comunicação como a televisão, que atingem principalmente uma população para quem falta o essencial” (São Paulo: Crescimento e Pobreza, 1975)
Concluindo este item apontado por nós, devemos considerar que esta inserção da sociedade brasileira na modernidade é total, pois o modelo de desenvolvimento para o nosso país não tinha como objetivo o extermínio da pobreza, muito pelo contrário, sustentava-se sobre ela.

Essa base de sustentação, do modelo de desenvolvimento desigual e combinado colocado em prática no Brasil, que tem como objetivo principal e, portanto, reflete a característica da maneira de viver da sociedade moderna, isto é, o lucro concentrado na mais-valia, também pode ser identificada no processo de Reestruturação da Metrópole Paulista, Reestruturação da Centro do Rio de Janeiro, A Reforma Fiscal, da Previdência etc..., mas esses temas poderão ser trabalhados em um outro momento.

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*Em seu livro - A Construção da Geografia Humana - Quaini faz uma aobordagem geral sobre o desenvolvimento das concepções de geografia. No nosso caso, destacaremos um trecho contido nas páginas 43 e 44 desta obra, o qual nos dará suporte para futuras reflexões: “Para compreender todo o sentido da definição generalizada da geografia humana como ciência que saiu do seio do positivismo ambientalista e, portanto, pode voltar ao problema do nascimento da geografia humana - que representa um problema ainda aberto - devemos reconstruir esquematicamente, até os dias de hoje, a evolução desta geografia que surgiu em torno de 1860... Os desequilíbrios regionais são vistos como fatos naturais, sua explicação apóia-se na riqueza-pobreza do solo e do subsolo, nas dificuldades ambientais, na distância dos centros de produção e de mercado, etc. O efeito é que, por exemplo, o atraso, o isolamento e a marginalização de uma região, na medida em que é vista principalmente em sua dimensão naturalista - a distância como distância física, o isolamento como fato geomorfólogo, a pobreza como fato geológico e jazidas minerais ou de recursos naturais - torna-se causa e, deste modo, toda tentativa de explicação efetiva é impossível. As consequências no plano político operativo são evidentes “este feixe de erros ou de aproximações, cuidadosamente mantido, tende a fazer desempenhar um papel social bem preciso à geografia:convencer os homens à resignação em relação às disparidades regionais, dado que estas seriam antes de mais nada fatos naturais” - Deinis, M., “La geógraphie et les originies des déséquilibres regionaux em France” in La Pensée Géographique...cit,p.685”.


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