Valther Maestro
1 - Compreender os elementos culturais que constituem as identidades
2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder.
3 - Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais.
4 - Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social.
5 - Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
6 - Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e geográficos.
Em 2009, o ENEM verificará essas 6 competências na área de Ciências Humanas e suas Tecnologias. Os destaques que fizemos, no corpo do texto publicado pela comissão organizadora do ENEM, revelam que o candidato deve compreender que relação entre a sociedade-natureza está diretamente ligada a um conjunto de relações sociais, econômicas e políticas; que estas se materializam nas paisagens do espaço global e local, e nas técnicas e tecnologias, explicitando a relação espaço-tempo; e que tal entendimento possibilita o desenvolvimento de novas relações e novas intervenções.
Além disso, na área das ciências humanas, o candidato deverá revelar que valoriza os fundamentos da vida em sociedade, respeitando os preceitos democráticos e demonstrando sua atuação/crença no exercício da cidadania, justamente quando respeita as identidades culturais do povo brasileiro, suas conquistas, suas lutas e suas instituições; bem como a sua percepção de que a vida em sociedade está diretamente ligada à maneira de viver, pensar e produzir.
As reflexões do Prof. Milton Santos nos ajudam a entender a importância das Ciências Humanas.
No que toca às ciências humanas, tratava-se muito mais uma revolução que mesmo de uma evolução. Para isso, contribuíram três razões essenciais: em primeiro lugar, os próprios suportes do trabalho científico progrediram muito; em segundo lugar, as necessidades dos utilizadores mudaram; e finalmente, o objeto da atividade científica se modificou.
Os instrumentos de trabalho postos nas mãos dos pesquisadores, os métodos de aproximação da realidade colocados à sua disposição conheceram um desenvolvimento notável, desde que um grande número de elementos novos tornaram-se disponíveis. Referimo-nos, particularmente, aos progressos da automação. Isso dotou a pesquisa de meios que, ao menos em aparência, deviam permitir uma definição mais exata das realidades, ensejando chegar assim à postulação de leis pertinência pode, todavia, ser discutidas.
Nas condições atuais do mundo, ainda mais que na era precedente, o espaço está chamado a desempenhar um papel determinante na escravidão ou na libertação do homem... um número avultado de geógrafos consciente ou inconscientemente deu uma colaboração ao mesmo tempo preciosa e perniciosa à expansão do capitalismo e à expansão de todas as formas de desigualdade e opressão...Devemos nos preparar para uma ação no sentido oposto, que nas condições atuais, exige coragem, tanto no estudo quanto na ação, a fim de tentar fornecer as bases de reconstrução de um espaço geográfico que seja realmente o espaço do homem, o espaço de toda gente e não o espaço a serviço do capital e de alguns...os instrumentos de universalização, dos quais costumamos dizer que eliminam o tempo e reduzem o espaço, só realizam esse milagre para poucos! Quantos, na realidade, podem beneficiar-se das facilidades de contato criadas pelo avião ou pelo telefone? Quantos podem ter acesso à difusão de um saber multiplicado e universalizado? As próprias estradas de rodagem que se expandem, dentro de cada país, e as próprias ruas, dentro de cada cidade, somente são utilizadas por alguns”.
Milton Santos. Por uma Geografia Nova – da crítica da geografia a uma geografia crítica. Hucitec, São Paulo, 1980.
Compreender as Ciências Humanas e suas Tecnologias é garantir uma abordagem da sociedade através das suas leituras sobre a relação espaço-tempo, sobre as paisagens, sobre os lugares, sobre as conquistas e sobre as materializações humanas. Mas como fazer isso?
• Como se realiza uma abordagem da sociedade através das leituras sobre o espaço-tempo?
• Como levar em consideração as características naturais e sociais para essa análise?
• O que compõe esse espaço, essa paisagem, esses lugares? E, como descrevê-los? Como definí-los? Como interpretá-los? Como entender suas espacialidades?
Compreender o mundo em que vivemos através da leitura espaço-tempo é entender o significado dos lugares. A identificação dos lugares é o primeiro passo para esse estudo. O reconhecimento dos elementos que compõem o lugar possibilita ter certeza de onde você está e das relações sociais nele constituídas. As reflexões de Ana Fani Alessandri Carlos corroboram nosso objetivo de verificar a perspectiva da Geografia enquanto ciência que explica os lugares.
“A geografia enquanto ciência começa a explicar o processo da produção espacial a partir da produção-reprodução da vida humana. Nesse sentido, o homem, de habitante, passa a ser entendido como sujeito dessa produção. Nessa perspectiva, a sociedade criadora de espaços é a sociedade tal como ela é, dividida em classes. Luta-se por uma geografia mais engajada e consciente dos problemas do homem, voltada para a realidade não só enquanto forma para a sua compreensão, mas como explicação de sua transformação. Isto porque a geografia vem se posicionando frente à realidade – entendendo-a em suas múltiplas determinações, em sua multiplicidade de tensões, de confrontações, de lutas e vem tomando consciência das contradições inerentes ao processo de construção da realidade urbana: o real em sua dimensão histórico-social”. (Carlos,1994, p.158)
Diante disso, quando lemos a paisagem de um lugar, devemos ter claro que, apesar da possível aparência semelhante, dos fluxos e das marcas construídas e reconstruídas nos lugares, existem elementos, detalhes e essências que são peculiares a cada uma deles.
Sendo resultado das transformações colocadas em prática tanto pela dinâmica da natureza, quanto pelo processo de apropriação realizado pelos grupos humanos, os lugares e as suas paisagens revelam, nas suas essências, os seus significados.
Sabemos que, ao se tornar um fenômeno mundial, o capitalismo e a maneira de viver da sociedade moderna promoveram a especialização produtiva de cada parte do planeta. No entanto, no mesmo instante, tal especialização se deu frente a um processo de homogeneização dos lugares. Por isso, compreender a divisão internacional do trabalho é importante para entendermos as semelhanças e as diferenças no mundo, nos países, nas cidades e nas paisagens.
Para identificar um lugar, não nos baseamos apenas na sua aparência, mas no reconhecimento das pessoas, das coisas que elas estão fazendo, das suas práticas, de seus sonhos, de suas formas de construir, de resistir, de marcar seu território e nas fronteiras que constroem diariamente.
O que nos faz reconhecer a paisagem de algum lugar é um conjunto de fatores que vão além da sua aparência. É preciso verificar o significado dos lugares. Conhecer a sua importância, as suas configurações, suas relações, suas regras, os seus cheiros e os seus sabores, impregnados em cada espaço construído.
Somando-se a tudo isso, para conhecer um lugar é preciso conhecer as regras que dão identidade às suas paisagens, pois só assim poderemos perceber se as coisas e situações estão ou não de acordo com uma certa ordem. Viver em um lugar onde não podemos identificar as regras na paisagem é, no mínimo, perigoso.
No cotidiano do espaço construído, a associação entre as marcas na paisagem e as regras que correspondem a elas é feita quase que automaticamente. Viver nesse mundo moderno implica reconhecer, a todo instante, as regras que estão postas em cada lugar. seja qual for a sua forma ou sua simbologia. No entanto, quando isso não é possível ou não está claro, uma infinidade de conflitos podem ocorrer.
Olhar a paisagem de uma cidade, por exemplo, é decodificar seus símbolos, é inserir-se de forma autônoma no espaço construído, é vivenciar aquilo que esta posto. Diante disso, Calvino demonstra claramente o universo da cidade e de sua simbologia.
“Caminha-se por vários dias entre árvores e pedras. Raramente o olhar se fixa numa coisa, e, quando isso acontece, ela é reconhecida pelo símbolo de alguma outra coisa: a pegada na areia indica passagem de um tigre; o pântano anuncia uma veia de água; a flor o hibisco, o fim do inverno. O resto é mudo intercambiável – árvores e pedras são apenas aquilo que são.
Finalmente, a viagem conduz à cidade... penetra-se por ruas cheias de placas que pendem das paredes. Os olhos não vêem coisas, mas figuras de coisas que significam outras coisas: o troques indica a casa do tira-dentes; o jarro, a taberna; as alabardas, o corpo de guarda; a balança, a quitanda. Estátuas e escudos reproduzem imagens de leões, delfins, torres, estrelas: símbolo de que alguma coisa – sabe-se lá o quê – tem como símbolo um leão ou delfim ou torre ou estrela. Outros símbolos advertem aquilo que é proibido em algum lugar – entrar na viela com carroças, urinar atrás do quiosque, pescar com vara na ponte – e aquilo que é permitido – dar de beber às zebras, jogar bocha, incinerar o cadáver dos parentes (...) Se um edifício não contém nenhuma insígma ou figura, a sua forma e o lugar que ocupa na organização da cidade bastam para indicar a sua função: o palácio real, a prisão, a casa da moeda, a escola, o bordel. Mesmo as mercadorias que vendedores expõem em suas bancas valem não por si próprias mas como símbolos de outras coisas: a tira bordada para a testa significa elegância; a pulseira para o tornozelo, voluptuosidade. O olhar percorre as ruas como se fossem páginas escritas: a cidade diz tudo o que você deve pensar...”. (Calvino,1999, pp.17/18 )
No entanto, quando não conseguimos fazê-lo, ou quando isso é impossível, - quando as regras não estão expressas, quando os símbolos postos não expressam suas múltiplas verdades, mas uma verdade hegemônica, fragmentada e ideológica - a situação de conflito vem à tona, pois os símbolos e códigos são decifráveis para uns e não para outros. Sendo assim, os conflitos se manifestam e se reproduzem de forma desigual, indicando que aqueles que conhecem o significado dos símbolos em questão tem uma maior probabilidade de prevalecer.
Esse é um dos papeis fundamentais das Ciências Humanas, possibilitar a todos a decodificação dos símbolos e a leitura do tempo e do espaço, garantindo, assim, uma igualdade na ocupação dos territórios por todos os humanos.
As paisagens das cidades do mundo revelam essa forma de organização social. Os lugares das cidades modernas materializam a exclusão, uma vez que não garantem a todos as suas construções simbólicas. Cria-se, assim, uma simbologia fragmentada, “guetifica-se” o espaço da totalidade, e é essa fragmentação que sustenta a relação entre opressores e oprimidos.
Na ocupação do espaço no mundo globalizado, se constituiu uma lógica capaz de atender aos objetivos que motivaram sua formação, que, sabemos, estão relacionados às necessidades de manutenção da forma de viver das sociedades modernas, assentadas na produção, na circulação e na materialização das idéias dos grupos hegemônicos.
Assim, as múltiplas paisagens, que vão se constituindo no mundo obedecem à mesma lógica indispensável da concretização do processo produtivo, nas suas mais variadas etapas ou funções.
Para nós, a sociedade civil deve ser entendida como a esfera das relações entre indivíduos, entre grupos e classes sociais que se desenvolvem à margem de poder que caracterizam as relações estatais, que é representada como o terreno dos conflitos econômicos, ideológicos, sociais e religiosos que o Estado tem a seu encargo resolver. (Bobbio, 1992)
Todas essas etapas ou funções aparecem como imposições determinantes dos lugares que cada uma delas deverá freqüentar ou habitar, e isso depende da função que cada um ocupa no processo produtivo e na estrutura da sociedade, e não de suas opções individuais.
Entender as muitas relações existentes entre os lugares e as diferenças entre eles, para eliminar as desigualdades entre os lugares, que são frutos da impossibilidade de escolhas, concretizada na ausência do respeito às opções, deveria ser a base estruturante dos projetos que visam a melhoria da qualidade de vida em qualquer lugar do planeta.
Sabemos que a desigualdade gera paisagens diferentes. Os ganhos ou salários desiguais também produzem diversos tipos de paisagens. No entanto, as diferenças materializadas nos vários lugares deveria ter como base a própria diferença, não a desigualdade; isso porque acreditamos na possibilidade de construção de uma sociedade sustentada em um projeto que não seja homogeneizador e excludente.
As reflexões de Marcos Reigota corroboram nossa análise:
“Sempre vamos querer muito, mesmo que modestos. Dessa forma a cidadania que queremos não é apenas a cidadania local... Queremos o direito de ser cidadãos e cidadãs do mundo, pelo fim dos colonialismos e neo-colonialismos sutis e concretos. Nesse planeta, não reivindicamos mais só o direito à igualdade, mas também o direito à diferença. Somos iguais e diferentes ao mesmo tempo, as diferenças devem nos unir e não nos separar, devem resistir às tentativas de homogeneização da vida, de nos fazer cópias de baixa qualidade de um modelo único de vida. Queremos as possibilidades de encontros nas diferenças, a possibilidade de expressar os nossos acordos e desacordos, em tudo o quer diz respeito à vida...”. (Reigota, 1997, p.201)
Os lugares sendo o tempo e o espaço do cidadão e da cidadania, conforme fundamentamos anteriormente, deveriam garantir a possibilidade desses encontros e desses acordos, tendo como princípio o respeito às diferenças. Entretanto, existe algo muito mais forte que se materializa e que constrói as relações entre os lugares e as pessoas, e que sistematiza as regras e os conflitos: são as formas de produzir esses espaços e as relações sociais de produção que estão contidas na lógica das paisagens.
Portanto, os lugares fazem parte e interferem no desenvolvimento da vida das pessoas, e são, portanto, o resultado das atividades desenvolvidas por elas. Portanto, não há espaço que não revele a sua finalidade, a sua especificidade e o porquê de suas metamorfoses, como afirma Milton Santos:
“O papel específico do espaço como estrutura da sociedade vem, entre outras razões, do fato de que as formas geográficas são duráveis e, por isso mesmo, pelas técnicas que elas encarnam e às quais dão corpo, isto é, pela sua própria existência, elas se vestem de uma finalidade que é originariamente ligada, em regra, ao modo de produção precedente ou a um de seus momentos. Assim mesmo, o espaço como forma não tem, de modo algum, um papel fantasmagórico, pois os objetos espaciais são periodicamente revivificados pelo movimento social.
Pode dizer-se das formas em geral que elas se metamorfoseiam em outras formas quando o conteúdo muda ou quando muda a finalidade que lhes havia dado origem. Com a forma espacial, a questão é diferente. Pode-se adicionar-lhe uma outra forma nova, pode-se adaptá-la, ou então impõe-se destruí-la e substituí-la completamente. Mas neste último caso já não será mais a mesma forma”. (Santos, 1980, p.149)
As reflexões de Milton Santos garantem nossa análise, demonstrando que vivenciar os lugares é importante para todos; fazer parte da construção/reconstrução de seus símbolos, entender a metamorfose por qual passa cada lugar, a mudança nas regras, nas suas paisagens e nas suas geografias é fundamental para entender a sua dinâmica, aquilo que está posto, aquilo que ganha forma e se concretiza.
Diante disso, compreender o mundo em que vivemos exige fazer observações que permitam identificar as semelhanças, as desigualdades e as diferenças entre os tempos e os lugares; bem como as relações entre as pessoas e as instituições, os conflitos pelo poder e a relação econômica e produtiva colocada em prática nesses lugares, tendo como objetivo buscar os seus significados.
Por isso a paisagem não é permanente, ela registra as mudanças que acontecem nos lugares. Conhecer e sistematizar a história de um lugar, territorializando as mudanças, é fundamental para fazer compreender as Ciências Humanas.
Além disso, há uma infinidade de lugares, distantes ou próximos, que estão relacionados direta ou indiretamente conosco. É preciso entender as múltiplas relações existentes entre os lugares e que há um princípio básico que sempre devemos considerar para compreender as Ciências Humanas: apesar das diferenças e das distâncias entre os lugares, eles são muito dependentes uns dos outros, isto é, existem entre eles relações que precisam ser descobertas.
Assim, a relação entre lugares e a relação entre lugares e pessoas significa, na verdade, um amplo conjunto de formas de trabalho e de culturas materializado em inúmeras paisagens. Todos os lugares possuem uma história, fatos e fenômenos que podem ser territorialmente demarcados e que são de suma importância para sua caracterização geográfica. Novamente, Milton Santos corrobora nossa análise:
“Uma região produtora de algodão, de café ou de trigo. Uma paisagem urbana ou uma cidade de tipo europeu ou de tipo americano. Um centro urbano de negócios e as diferentes periferias urbanas. Tudo isso são paisagens, formas mais ou menos duráveis. O seu traço comum é ser a combinação de objetos naturais e de objetos fabricados, isto é, objetos sociais, e ser o resultado da acumulação da atividade de muitas gerações (...)
A paisagem não tem nada de fixo, de imóvel. Cada vez que a sociedade passa por um processo de mudança, a economia, as relações sociais e políticas também mudam, em ritmos e intensidades variados. A mesma coisa acontece em relação ao espaço e à paisagem que se transforma para se adaptar às novas necessidades da sociedade (...)
Considerada em um ponto determinado no tempo, uma paisagem representa diferentes momentos do desenvolvimento de uma sociedade. A paisagem é o resultado de uma acumulação de tempos. Para cada lugar, cada porção do espaço, essa acumulação é diferente: os objetos não mudam no mesmo lapso de tempo na mesma velocidade ou na mesma direção.
A paisagem, assim como o espaço, altera-se continuamente para poder acompanhar as transformações da sociedade. A forma é alterada, renovada, suprimida para dar lugar a uma outra forma que atenda às necessidades novas da estrutura social”.(Santos, 1991,pp.37/38)
Conhecer a história de um lugar é fundamental para compreendermos sua Geografia, justamente por ela estar materializada em suas paisagens. Contudo, para entender o mundo em que vivemos, precisamos considerar tanto os fatores que fazem com que elas sejam muito semelhantes em certos aspectos, como aqueles que as tornam únicas.
Devemos entender que as mudanças visam atender aos interesses de uma parcela da sociedade civil, que infelizmente não é a maioria, pois vivenciamos uma maneira de viver em que opressores garantem seus movimentos e materializam aquilo em que acreditam ser verdade. Por isso, nem sempre as semelhanças e diferenças entre os lugares são tão evidentes.
Nesse sentido, as reflexões de Ruy Moreira sustentam nossa fundamentação:
“Disséramos que o espaço pode ser concebido por intermédio de uma metáfora. Se observarmos uma quadra de futebol-de-salão, notaremos que o arranjo do terreno reproduz as regras desse esporte. Basta aproveitarmos a mesma quadra e nela superpomos o arranjo espacial de outras modalidades de esporte, como vôlei, basquete ou handball, cada qual com “leis” próprias, para notarmos que o arranjo espacial diferirá para cada uma. Diferirá porque o arranjo espacial reproduz as regras do jogo, e estas regras diferem para cada modalidade de esporte considerado. Se fossem as mesmas “leis” para todas, o arranjo seria um só. Assim também é o espaço geográfico com relação à sociedade. O arranjo do espaço geográfico exprime o “modo de socialização” da natureza. Tal o modo de produção, tal será o espaço geográfico (...) O espaço é a sociedade vista como sua expressão material visível. A sociedade é a essência, de que o espaço geográfico é a aparência, encerrando esta síntese o fundamento da teoria e do método geográficos”. (Moreira, 1981, p.35 )
Os lugares estão cheios de regras, neles se expressam as leis que a sociedade elaborou nesse jogo truncado da construção da urbanidade. E foi na busca dos significados dos lugares, observamos a relação aparência/essência, para sistematizar as materializações da maneira de viver desta sociedade.
Sendo assim, não desprezamos nenhum aspecto que contribui para essa explicação, que deseja garantir uma apropriação dos mecanismos básicos das múltiplas formas que estão materializadas nos lugares.
Assim, compreender o significado dos lugares é o fundamento das competências das ciências humanas e suas tecnologias. Assim, educadores e educandos devem ler o tempo-espaço, buscando explicações para decodificar o que está posto para os lugares do planeta, do nosso país e de nossas cidades.
No próximo texto, continuaremos refletir sobre as competências de ciências humanas e suas tecnologias.
Bibliografias para Consulta
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CARLOS, A. F. A. São Paulo a “anti-cidade?”. In: SOUZA, M.A.A. et all (Org.) Metrópole e Globalização: Conhecendo a Cidade de São Paulo. São Paulo: Ed. CEDESP, 1999.
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