quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Brasil, suas contradições

Valther Maestro




O que é Violência ?

Violência – Qualidade de violento; ato violento; ato de violentar
Violentar – Exercer violência; forçar; coagir; violar; estrupar
Violento – Que se exerce com força; tumultuoso; em que há emprego de força bruta.
Coagir – Constranger, forçar, obrigar


O que é Desemprego ?

Desemprego – Desocupação; vadiação
Desempregado - sem serviço; desocupado


Projeto Axé, Lição de Cidadania

Na língua africana iorubá, axé significa força mágica. Em Salvador, Bahia, o Projeto Axé conseguiu fazer, em apenas três anos, o que sucessivos governos não foram capazes: a um custo dez vezes inferior ao de projetos governamentais, ajuda meninos e meninas de rua a construírem projetos de vida, transformando-os de pivetes em cidadãos.
A receita do Axé é simples: competência pedagógica, administrativa eficiente, respeito pelo menino, incentivo, formação e bons salários para os educadores. Criado em 1991 pelo advogado e pedagogo italiano Cesare de Florio La Rocca, o Axé atende hoje mais de duas mil crianças de adolescentes.
O processo pedagógico começa na rua, onde os meninos moram, tomam banho, ganham a vida, dormem e muitas vezes morrem, assassinados por grupos de extermínio, traficantes de drogas ou em brigas de gangues. Duplas de educadores de rua se aproximam dos garotos, ganham sua confiança e vão aos poucos conseguindo atraí-los para as atividades do projeto: alfabetização, oficina de serigrafia, fábrica e papel reciclado, escola de circo e diversas atividades culturais.
A cultura afro, forte presença na Bahia, dá o tom do Projeto Erê ( entidade criança do candomblé), a parte cultural do Axé. Os meninos participam da banda mirim do Olodum, do Ilê Ayê e de outros blocos, jogam capoeira e têm um grupo de teatro. Todas as atividades são remuneradas. Além da bolsa semanal, as crianças têm alimentação, uniforme e vale-transporte.
A reconstrução da auto estima, a valorização de suas raízes culturais africanas e a possibilidade de se desenvolverem como seres humanos já tirou muitos meninos da rua, que voltaram para casa ou passaram a morar em pensões.
A experiência do Axé prova que é possível educar os meninos de rua e transformá-los em cidadãos produtivos. Basta dar-lhes na prática o que a Constituição já lhes garante no papel: direito à educação, assistência médica, alimentação. Basta enfim, tratá-los com o respeito que merecem.

Gilberto Dimenstein – o Cidadão de Papel – pág.152

Constituição da República Federativa do Brasil
PREÂMBULO

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
TÍTULO I DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I — a soberania;
II — a cidadania;
III — a dignidade da pessoa humana;
IV — os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V — o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Art. 2º São Poderes da União, indepen¬dentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Art. 3º Constituem objetivos funda¬mentais da República Federativa do Brasil:
I — construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II — garantir o desenvolvimento nacional;
III — erradicar a pobreza e a margina¬lização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV — promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo.

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
I — independência nacional;
II — prevalência dos direitos humanos;
III — autodeterminação dos povos;
IV — não-intervenção;
V — igualdade entre os Estados;
VI — defesa da paz;
VII — solução pacífica dos conflitos;
VIII — repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX — cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X — concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

Que país é este

Nas favelas no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação

Que país é este

No Amazonas, no Araguaia, na Baixada fluminense
Mato Grosso, nas Geraes e no Nordeste tudo em paz
No morte eu descanso mas o sangue anda solto
Manchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão

Que país é este

Terceiro mundo se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando venderemos todas as almas
Dos nossos índios em um leilão

Que país é este.

Renato Russo- Que País é Este (63. 792.613) 1978/1987 – Legião Urbana - Emi-Odion , 1994, Faixa 1.


Brasil: suas paisagens, suas contradições, suas geografias

As Contradições das Paisagens Brasileiras

Quando comparamos a área do território brasileiro com a de outros países do mundo conseguimos perceber como o nosso país é grande, mas será que tamanho é ou não documento?

Uma grande extensão territorial significa disponibilidade de grandes reservas de recursos naturais, a possibilidade de produção de alimentos, e a possibilidade de extração de materias primas para a adquirirmos as nossas roupas, nossos moveis, nossos eletrodomésticos, nossos brinquedos, nossas casas, tudo enfim que usamos no nosso dia-a-dia. Este fato significa que existem recursos naturais em abundância, que podem permitir a todos os brasileiros condições de vida dignas. Mas por que isso não acontece?

Devemos Ter claro que a extensão territorial é uma potencialidade que depende de outros fatores para se tornar uma realidade em termos de benefícios a serem usufruídos pela população.

Além disso, não podemos esquecer que apesar de termos uma grande população, um grande parque industrial, grandes universidades, hospitais extremamente modernos, uma grande extensão de fronteira com o Oceano Atlântico, bem como muitas fronteiras com outros países, não conseguimos garantir trabalho, escola, condições de saúde, alimentos bem como não conseguimos comercializar em grande escala com nossos vizinhos. Essas são algumas das contradições que podem ser observadas materializadas nas paisagens do Brasil e a possibilidade de solução vai depender do tipo de relação social que os brasileiros estabelecem com a forma de produzir e gerar riquezas, bem como a forma de dividi-las.

Essas paisagens contraditórias revelam as injustiças que estão presentes nas o paisagens do nosso país e, portanto, na forma de organização e produção dos espaços deste país. Entender como elas foram se resultando é um dos caminhos para que um dia elas possam deixar de existir.

Diante de tudo que foi estudado até aqui, você pôde observar, que fica difícil de rotular o Brasil como um país pobre ou rico, desenvolvido ou subdesenvolvido, de 1o ou de 3o mundo. Cabe, neste momento aprofundar nossos estudos e adquirir cada vez mais conhecimentos para que possamos realizar uma caraterização do nosso país da forma mais fiel possível.


Brasil, País de Contradições

O mundo deu muitas voltas. Caíram barreiras, referências, mitos e muros. A história não coube em teorias. As teorias negaram suas promessas. O capitalismo continuou produzindo miséria no mundo, mas o socialismo avançou sem conseguir eliminá-la. A modernidade produziu um mundo menor do que a humanidade. Sobram bilhões de pessoas. Não se previu espaço para elas nos vários projetos internacionais e nacionais. No Brasil essa exclusão tem raízes seculares. De um lado, senhores, proprietários, doutores. Do outro, índios, escravos, trabalhadores, pobres.
Isso significa produzir riqueza pela pobreza. Sendo um modelo econômico sustentado em vícios sociais, o padrão rural da colônia transferiu-se praticamente intato ao país urbano, com pretensões a ser moderno. O Brasil tem um indústria com duas caras – e a mesma moeda. Moderna tecnologia, atrasada nas relações de trabalho. Sua classe média espreme-se entre a ideologia do senhor e as agruras dos pobres. Teme o destino de um respeita o poder do outro.
A industrialização brasileira não encurtou o abismo entre pobres e ricos. Os senhores viraram empresários, mas continuaram a viver em novas versões da casa-grande. Os escravos viraram trabalhadores, mas continuaram morando na senzala, em dormitórios feitos para isolar o pobre depois do serviço.
Nos anos 90, aprendemos que, e, sessenta anos de industrialização. O Brasil havia gerado três categorias sociais – ricos, pobres e indigentes. É como se elas habitassem países diferentes. Existe a minoria rica, branca sofisticada, formando uma sociedade mais ou menos comparável à do Canadá. Tem a maioria pobre, negra, silenciosa e resignada, do tamanho do México. E Há 32 milhões de indigentes, uma Argentina dentro do Brasil. Esses 32 milhões são brasileiros que o Brasil trata como estrangeiros, uma população indesejada, descurada quase inimiga. Com a produção agrícola atual, poderia alimentar 300 milhões de pessoas. Nada, em sua economia, impede que sejam gerados agora 9 milhões de empregos de emergência. Se a posse da terra fosse democratizada de maneira rápida e decidida, abriria lugar para 12 milhões de famílias. Se coisas assim acontecessem, 32 milhões de pessoas que estão passando fome teriam comida, pelo menos comida.
Herbert de Souza - Ética


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