Naquele tempo, numa longínqua província do Reino de Cataí, havia um pintor que passava o dia a compreender o incompreensível. A cidadezinha que ele habitava estava tão freqüentemente perdida nas brumas, que se contava que os cães ladravam quando viam o sol. Essa nuvens densas insistentes encobriam literalmente a paisagem, não deixando subsistir nada, a não ser as linhas de força, a curva de uma colina, um som do nada, uma passarela de madeira que levava de nenhuma parte a lugar algum, um pinheiro pontudo agarrando-se ao céu, as barcas no lago, sombras errantes suspensas no cinza do infinito, com suas altas velas retangulares semelhantes aos rolos de papel destinados a receber as enigmáticas caligrafias dos deuses.
O pintor recriava sobre folhas de papel de arroz as invisíveis presenças que a cada dia o rodeavam. Sua destreza com o pincel tornara-se tal, que ele era capaz de representar lagos, rochedos, pássaros e montanhas com poucos movimentos da mão. Mudas de admiração, as pessoas da cidadezinha assistiam aquela transmutação mágica do vazio e da matéria. Antes lenda murmurada, a reputação do pintor se estende tanto, que acaba indo além da fronteira de sua província, até chegar, um dia, aos ouvidos do Imperador. Assim, numa manhã, este último, acompanhado de seu filho mais velho e de muitos membros da Corte, atravessa o umbral da pequena casa. O pintor, emocionado por tamanha honra, não pára de se curvar diante do Imperador. Este lhe declara:
- Dizem que você é o melhor pintor de meu império, e quero ter certeza disso. Peço-lhe para me desenhar um cisne, o mais belo cisne já visto por um olho humano.
- Pois não, Senhor, responde humildemente o artista.
- De quanto tempo você precisará?
- Dez anos, Senhor. Responde com simplicidade o pintor. Dez anos, para pintar um belo cisne, Senhor.
- Está bem. Esperarei e voltarei daqui a dez anos exatos. O Imperador se afasta com os nobres e desaparecem no nevoeiro.
Dez anos se passaram. No dia combinado, o Imperador chega à casa do pintor com sua escolta.
- Vim buscar meu cisne. Onde está ele?
O pintor vai pegar uma grande folha de papel de arroz. Toda branca. Ele medita um instante em silêncio, depois molha o pincel na tinta. E então, sob os olhos maravilhados do Imperador, desenha, em alguns traços, um cisne de tal beleza que o soberano, realmente comovido, deixa escapar uma exclamação de pura admiração. Depois, permaneceu de pé em silêncio, cativado por tamanha perfeição expressiva. Por fim, ele se volta para o pintor.
- Eis uma obra da qual, jamais em minha vida vi tanta sutileza. Eu o cumprimento. Sua mulher e filhos poderão viver felizes: diante de testemunhas, eu lhes ofereço um palácio, um lago e florestas. Contudo, você, mágico do pincel, mandarei cortar sua cabeça por ter zombado de mim fazendo-me esperar dez anos.
Enquanto o pintor, sem dizer nada, se deixa prender diante de sua família em lágrimas, o filho do Imperador, cuja curiosidade o levará aos celeiros de arroz da pobre fazenda, grita.
- Pai, Pai! Venha ver! Venha depressa!
Por toda parte, no chão, nas paredes, havia fardos de papéis, pilhas de papel de arroz nos quais estavam desenhados milhares, milhões de cisnes. O pintor treinara durante dez anos, dia e noite, para oferecer a seu Imperador uma obra digna dele.
O pintor recriava sobre folhas de papel de arroz as invisíveis presenças que a cada dia o rodeavam. Sua destreza com o pincel tornara-se tal, que ele era capaz de representar lagos, rochedos, pássaros e montanhas com poucos movimentos da mão. Mudas de admiração, as pessoas da cidadezinha assistiam aquela transmutação mágica do vazio e da matéria. Antes lenda murmurada, a reputação do pintor se estende tanto, que acaba indo além da fronteira de sua província, até chegar, um dia, aos ouvidos do Imperador. Assim, numa manhã, este último, acompanhado de seu filho mais velho e de muitos membros da Corte, atravessa o umbral da pequena casa. O pintor, emocionado por tamanha honra, não pára de se curvar diante do Imperador. Este lhe declara:
- Dizem que você é o melhor pintor de meu império, e quero ter certeza disso. Peço-lhe para me desenhar um cisne, o mais belo cisne já visto por um olho humano.
- Pois não, Senhor, responde humildemente o artista.
- De quanto tempo você precisará?
- Dez anos, Senhor. Responde com simplicidade o pintor. Dez anos, para pintar um belo cisne, Senhor.
- Está bem. Esperarei e voltarei daqui a dez anos exatos. O Imperador se afasta com os nobres e desaparecem no nevoeiro.
Dez anos se passaram. No dia combinado, o Imperador chega à casa do pintor com sua escolta.
- Vim buscar meu cisne. Onde está ele?
O pintor vai pegar uma grande folha de papel de arroz. Toda branca. Ele medita um instante em silêncio, depois molha o pincel na tinta. E então, sob os olhos maravilhados do Imperador, desenha, em alguns traços, um cisne de tal beleza que o soberano, realmente comovido, deixa escapar uma exclamação de pura admiração. Depois, permaneceu de pé em silêncio, cativado por tamanha perfeição expressiva. Por fim, ele se volta para o pintor.
- Eis uma obra da qual, jamais em minha vida vi tanta sutileza. Eu o cumprimento. Sua mulher e filhos poderão viver felizes: diante de testemunhas, eu lhes ofereço um palácio, um lago e florestas. Contudo, você, mágico do pincel, mandarei cortar sua cabeça por ter zombado de mim fazendo-me esperar dez anos.
Enquanto o pintor, sem dizer nada, se deixa prender diante de sua família em lágrimas, o filho do Imperador, cuja curiosidade o levará aos celeiros de arroz da pobre fazenda, grita.
- Pai, Pai! Venha ver! Venha depressa!
Por toda parte, no chão, nas paredes, havia fardos de papéis, pilhas de papel de arroz nos quais estavam desenhados milhares, milhões de cisnes. O pintor treinara durante dez anos, dia e noite, para oferecer a seu Imperador uma obra digna dele.
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