segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A Dissertação do ENEM

Valther Maestro


O texto Dissertativo é, antes de tudo, um texto científico. Pode ser argumentativo ou expositivo-informativo. No caso do ENEM a dissertação deve ser argumentativa, que possui um caráter pessoal, onde o candidato revela: suas convicções, seus valores e o seu sentido de pertencimento social. O candidato poderá, também, apresentar uma proposta de intervenção na realidade (logicamente se isso for pedido) – por isso, o estudante deve ler com atenção a proposta da redação.
Quanto à estrutura do texto Dissertativo, temos a produção baseada em uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão.
A introdução é o parágrafo de apresentação do texto. Considero como sendo o mais importante. Uma introdução bem elaborada garantirá ao estudante 50% de seu texto, por isso a introdução deve ser feita com muito cuidado e atenção.
O desenvolvimento consiste na explanação da ideia apresentada na introdução. A progressão temática deve ser apontada no desenvolvimento. A exigência é para o desenvolvimento do texto, pois, antes de oferecer uma progressão temática, temos que ter a apresentação a qual estará presente na introdução do texto, por isso que a introdução é tão importante. No desenvolvimento do seu texto, você deve expor a sua idéia, exemplificá-la e apresentar argumentações consistentes sobre o assunto trabalhado .
A conclusão é o fechamento do que foi apresentado em todo o texto. Pode ser oferecida uma solução, consoante a progressão temática, uma reafirmação mais crítica acerca do que foi abordado ou, até mesmo, um comentário ampliando a progressão.
Quanto à produção, deve o produtor primar:
1. Pelo uso da norma culta da língua portuguesa;

2. pela concisão, fundamental para a compreensão do texto. Vale ressaltar que não devemos confundir objetividade com parágrafos reduzidos (poucas linhas). Para que o texto seja objetivo, os períodos devem estar bem formulados;

3. pela argumentação e fundamentação com convicção e precisão;

4. pela centralização da ideia principal;

5. pela proposta apresentada no parágrafo final.

Muitos estudantes dizem: "Eu tenho muitas ideias, domino o assunto, mas, quando vou colocá-las no papel, não consigo. Trava. Dá um branco. Nada organizo." Isso que pode acontecer com você, não é ruim...isso mesmo, não é ruim! Fique feliz...pois você não deve colocar todas as ideias em uma única temática, isso seria uma loucura!
O texto dissertativo deve ser trabalhado com apenas uma ideia. A progressão temática representa a geração de exemplos e argumentações sobre essa ideia. Toda essa geração deve ser baseada em uma única ideia. Não esqueça isso. A palavra ideia está se repetindo com um único objetivo: centralize a ideia e passe a gerenciar seu texto.
Algumas Dicas:
1. Faça um rascunho;

2. Anote ao lado da proposta da redação Suas Ideias;

3. Escolha uma Ideia e pense em exemplos e argmentações;

4. De preferência para os exemplos que podem ser observados no contexto do nosso pais;

5. Crie elementos coesivos para cada parágrafo

6. Escreva em ordem direta

7. A coesão e a coerência do seu texto estará diretamente ligada aos tempos verbais que você utilizar, isso dará solidez ao seu texto.

8. Lembre que você está escrevendo para alguém, portanto, o texto deve ser compreendido facilmente. Antes de chegar na versão final, leia seu texto, e retome os pontos que apresentarem dúvidas ou fragilidades.

9. Exercite, produza textos dissertativos utilizando propostas diferenciadas.
Leia com atenção essa sugestão de tema para a elaboração de um texto dissertativo. Utilize tal proposta e faça uma reflexão ampliada com sua família, em sua sala de aula, entre você e seus amigos.
Tema:
O PENSAMENTO PODE NOS SALVAR? DO QUE PRECISAMOS SER SALVOS?
Nós, seres humanos, somos seres que necessitamos do pensamento, porque ele é a proteção que o homem possui para sobreviver no mundo. E o pensamento nasce da necessidade. É o desafio vital que desafia o pensamento. Diante disto, pergunta-se como pode o homem utilizar o seu pensamento, conhecimento, criatividade para escapar do trator virulento da civilização, quer no tocante ao meio ambiente, ou à vida em sociedade, ou ao conflito entre religiões e povos? Desenvolva um texto dissertativo que procure responder a esta questão e explicar por que, para a sobrevivência do homem no planeta, é tão necessária a criatividade. Para o desenvolvimento de seu texto, considere o texto abaixo.

Hoje serei didático. Direto. O assunto é criatividade. Criatividade deve ser coisa boa porque todo mundo a deseja, mesmo sem saber do que se trata.

Comecemos por uma afirmação óbvia: somente os seres humanos são criativos. Os animais não são criativos. O mundo dos animais se desenvolve dentro de uma tranqüila mesmice que se perde no passado: as abelhas fazem suas colméias como sempre fizeram; os caramujos fazem suas conchas como sempre fizeram; os sabiás cantam seus cantos como sempre fizeram. Animal não inventa. Não precisa inventar.

Criatividade é precisamente isto: inventar. Fazer existir coisa que não existia. Nós inventamos músicas, roupas, armas, comidas, técnicas, jogos, brinquedos, livros. Essas coisas não existiam. Os animais, ao contrário, desejam que nunca haja mudança. Eles cantam a doxologia: “Como era no princípio, é hoje e para sempre, séculos sem fim, amém”. As mudanças, imperceptíveis, acontecem à revelia do que eles podem pensar. Animal não pensa, não precisa pensar. O pensamento é a busca do que não existe, a gestação do que não existe, o não-existente, sob forma virtual, antes de existir de forma real.

Os animais não precisam nem pensar nem criar porque eles são perfeitos. O que é perfeito não precisa mudar. Não quer mudar. Gato quer ser gato, borboleta quer ser borboleta, caramujo quer ser caramujo. Usando uma imagem do biólogo Uesküll, depois adotada por Goldstein, Cassirer e Merleau-Ponty, digo que os animais são músicas completas. Cada uma de um jeito. Alguns são músicas curtinhas, outros, músicas mais compridas. Uns, músicas monótonas como o cantochão. Outros, saltitantes como a “Pequena serenata” de Mozart. Mas o que importa não são as diferenças. O que importa é que todas elas são completas. Sendo completas, são perfeitas. Sendo perfeitas, são sempre repetidas. Todos os animais são melodias que se tocam, sem fim. Melodias acabadas. Terminadas as melodias, o compositor, seja o criador ou a evolução, colocou nelas a sua assinatura: “Amém, assim seja por todos os séculos”.

Agora o absurdo, o contraponto, o tema invertido: os homens precisam pensar e criar porque eles são imperfeitos. Pensamento e criatividade nascem da imperfeição. Como os animais, os homens também são melodias. Melodias interrompidas, melodias inacabadas, como “A arte da fuga” de Bach. Deus (ou a evolução) compôs só um pouquinho, muito pouco – escolheu os instrumentos da orquestra, tocou a introdução e, com um sorriso matreiro na boca, disse para a melodia assim iniciada: “Termine-se! Se você não se terminar vai desaparecer!” E esta é a história da humanidade: os homens, as culturas, tentando continuar a composição incabada.[...]

Os bichos não inventam máquinas. Não precisam. Seus corpos são máquinas perfeitas. Completas. Dão conta da vida. E o homem? Coitado. Corpo desajeitado. Molengão. Lerdo. Nariz ruim. Olho ruim. Ouvido ruim. Jamais pegaria um passarinho. Jamais pegaria um peixe. Aí, com fome, o corpo começou a pensar: “Haverá um jeito de pegar um passarinho? Haverá um jeito de pegar um peixe?” E foi por isso, porque não conseguia competir com os bichos de corpo perfeito, que o corpo imperfeito do homem se pôs a pensar.O corpo imperfeito do homem inventou o pensamento. O pensamento do homem existe para inventar aquilo que o corpo não tem. Inventou a fecha, a rede, a armadilha, a roda, a bicicleta. Invenções são melhorias para o corpo.

[...]. Quando o corpo tem dor, ele ordena ao pensamento: ‘Descubra um jeito de pôr fim a essa dor”. E foi assim que a anestesia, a aspirina, a dolantina foram descobertas. Se o corpo não sentisse dor, se ele fosse pedra nada disso teria sentido. [...]

Alberto Caieiro estava absolutamente certo quando disse que “pensar é estar doente dos olhos”. O pensamento nasce da doença. O pensamento existe para curar a doença do corpo. O homem é, de nascimento, um portador de deficiência física. Por isso ele desenvolveu e hipertrofiou a capacidade de pensar. A função do pensamento é inventar, para o corpo, aquilo que ele não recebeu por nascimento.



(ALVES, Rubem. Conversas sobre educação. Campinas, SP: Versus Editora, 2003, p 119-124).

Um comentário:

  1. adorei o tema ! genial ! infelizmente alguns humanos se acham perfeitos e ignoram a dádiva de pensar

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