“ O que é moderno ? ...Moderno refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência”. (Giddens, 1991, p.13)
“Acompanhando o frenético ritmo de ‘desenvolvimento das forças produtivas’, o tempo social distanciou-se das interferências provenientes da Natureza, sobrepondo-se a elas. Ele encontra seu símbolo quase paradigmático no relógio atômico do século XX, que assinala a passagem dos segundos, minutos, horas, dias, meses e anos, ativado por uma central própria de energia, sinal que o tempo da Natureza foi banido do tempo social... O passado perdeu seus sentidos significativos em um mundo no qual o próprio presente tornou-se ‘um instante fugidio’, um lapso ‘que vai do passado para o futuro e transforma o futuro em passado’. O antes e o depois, tornam-se marcos de uma marcha processual na qual o futuro, assim que é capturado pelo presente, é rapidamente erodido e transformado em um aluvião composto de partículas cuja inteligibilidade, uma vez desfeito o sentido organizador do presente, desaparece. Os eventos, sucedendo-se rapidamente, são metamorfoseados em simulacros, encarcerados em um caleidoscópio que virtualiza seu sentido, fluindo por breves momentos perdidos na voragem de um tempo dominador e inflexível. Sinteticamente, a modernidade é um modo de vida em que tudo, um dia, será passado”. (Waldman,1994 p.33)
“Rompeu-se com a concepção medieval de natureza, mas não todavia com a concepção divina de homem. Mesmo na nova natureza Deus permanece como essência do mundo, sendo ele que nele aparece agora na forma da razão geométrica. Nesse novo conceito a natureza tem leis de movimento intrínsecas, suas próprias leis de movimento, mas no seu conjunto é um grande relógio (metáfora que se empresta generalizadamente para o todo da natureza a partir dos movimentos da Terra) e Deus o grande relojoeiro. Até o Renascimento o mundo se distingue entre o sub e o supralunar... Com a revolução da Física a natureza passa a ser um conjunto de corpos de extensão definida (o espaço cartesiano), animados pelo movimento mecânico, esse movimento é uniformemente governado do nível macro (corpos celestes) ao nível micro (corpos da superfície terrestre) pela Lei da Gravidade, uma lei universal...Estamos na modernidade, longe então da relação natural-sobrenatural medieval, de fronteiras fluidas, e vivendo no interior de uma relação natureza-espírito de fronteiras demarcadas. De uma natureza confusamente indivisa, passamos para uma natureza separada do espírito. E para um homem inteiramente defrontado com um mundo de estranhamento”. (Moreira, 1993, p.17)
“Acompanhando o frenético ritmo de ‘desenvolvimento das forças produtivas’, o tempo social distanciou-se das interferências provenientes da Natureza, sobrepondo-se a elas. Ele encontra seu símbolo quase paradigmático no relógio atômico do século XX, que assinala a passagem dos segundos, minutos, horas, dias, meses e anos, ativado por uma central própria de energia, sinal que o tempo da Natureza foi banido do tempo social... O passado perdeu seus sentidos significativos em um mundo no qual o próprio presente tornou-se ‘um instante fugidio’, um lapso ‘que vai do passado para o futuro e transforma o futuro em passado’. O antes e o depois, tornam-se marcos de uma marcha processual na qual o futuro, assim que é capturado pelo presente, é rapidamente erodido e transformado em um aluvião composto de partículas cuja inteligibilidade, uma vez desfeito o sentido organizador do presente, desaparece. Os eventos, sucedendo-se rapidamente, são metamorfoseados em simulacros, encarcerados em um caleidoscópio que virtualiza seu sentido, fluindo por breves momentos perdidos na voragem de um tempo dominador e inflexível. Sinteticamente, a modernidade é um modo de vida em que tudo, um dia, será passado”. (Waldman,1994 p.33)
“Rompeu-se com a concepção medieval de natureza, mas não todavia com a concepção divina de homem. Mesmo na nova natureza Deus permanece como essência do mundo, sendo ele que nele aparece agora na forma da razão geométrica. Nesse novo conceito a natureza tem leis de movimento intrínsecas, suas próprias leis de movimento, mas no seu conjunto é um grande relógio (metáfora que se empresta generalizadamente para o todo da natureza a partir dos movimentos da Terra) e Deus o grande relojoeiro. Até o Renascimento o mundo se distingue entre o sub e o supralunar... Com a revolução da Física a natureza passa a ser um conjunto de corpos de extensão definida (o espaço cartesiano), animados pelo movimento mecânico, esse movimento é uniformemente governado do nível macro (corpos celestes) ao nível micro (corpos da superfície terrestre) pela Lei da Gravidade, uma lei universal...Estamos na modernidade, longe então da relação natural-sobrenatural medieval, de fronteiras fluidas, e vivendo no interior de uma relação natureza-espírito de fronteiras demarcadas. De uma natureza confusamente indivisa, passamos para uma natureza separada do espírito. E para um homem inteiramente defrontado com um mundo de estranhamento”. (Moreira, 1993, p.17)
As leis são universais, o tempo é universal, a natureza perde sua especificidade e ganha na sua aparência uma nova essência, transforma-se em elemento de manutenção do sistema - a matéria-prima.
Não importa o formato da ordem e das instituições, fundamental que elas garantam a reprodutibilidade do capital, o que fica claro quando realizamos um breve histórico das idéias da ciência econômica burguesa.
A ordem política instalada pela Burguesia, do “Laissez Faire, laissez passèe”, que pregava a não intervenção do Estado na liberdade de iniciativa e de contrato, acabou gerando um enorme desequilíbrio social, onde patrões exploravam empregados, através de regimes trabalhistas de semi escravidão, com jornadas de trabalho de até 16 horas por dia e direitos trabalhistas quase inexistentes.
O modelo smithiano, que foi bom para o século XVIII quando o capitalismo industrial efetivamente existia só na Inglaterra, foi admissível em uma realidade de baixa concorrência. No século XIX - e Revolução Francesa e Independência dos EUA são prenúncios disso - vários países europeus se industrializam, além dos Estados Unidos e do Japão, mostrando o quanto a chamada livre-concorrência podia ser saudável para os consumidores, mas nefasta para os industriais.
Por conta disso apareceu David Ricardo, com sua Teoria da Mão-Invisível do Estado, afirmando que, em situações de risco para o capital, o Estado deveria “sutilmente” interferir na concorrência em defesa dos interesses da burguesia nacional.
Um inglês do século XVIII consideraria a intervenção estatal um atraso mercantilista, mas para o inglês do século XIX, nada poderia ser mais moderno, arrojado, dinâmico, próspero. Isso mostra como a modernidade não está na mudança aleatória, mas sim na sua intencionalidade, e esta intencionalidade está voltada para uma lógica capitalista.
Esse processo, que inseriu todos os lugares do planeta no mesmo sistema produtivo, com as mesmas leis, e que nos dá suporte para dizer que o mundo é moderno, tem como base para a sua existência a formação de espaços desigualmente desenvolvidos. Este processo provoca a formação de espaços diferentes inseridos dentro da mesma lógica produtiva, dentro de um mesmo ritmo e fluxo de produção.
Esta última afirmação ajusta-se de modo adequado as citações de Neil Smith, as quais demonstram mais um elemento de formação do mundo moderno.
“Debaixo da ordenação do processo de acumulação o capitalismo como um modelo de produção, deve se expandir continuamente para poder sobreviver. A reprodução da vida material fica continuamente dependente da produção do valor excedente. Para este fim, o capital se volta para a superfície do solo em busca dos recursos materiais; a natureza torna-se um meio universal de produção, de modo que ela não somente prove o sujeito, o objeto e os instrumentos de produção, mas ela é em sua totalidade um acessório para o processo de produção.
Ao expandir sua busca de mais-valia relativa, o capital é levado a transformar os espaços exteriores, relativamente subdesenvolvidos, em espaços de produção e acumulação. Por outro lado, pressionado pela constante ameaça de super acumulação, o capital tenta transformar os lugares sem mercados para suas mercadorias em locais de consumo. Mas não pode fazer as duas coisas, porque pode transformar as sociedades subdesenvolvidas em locais de consumo, somente desenvolvendo-os e elevando os salários para facilitar o consumo. Há uma contradição entre os meios de acumulação e as condições necessárias para a acumulação ocorrer, apresentando nítidos contornos geográficos”. (Smith, 1988, p.137)
A mundialização dessa ordenação territorial e social insere os diferentes lugares num mesmo ritmo, nas mesmas leis universais, em uma mesma relação com a natureza, materializando-se de forma desigual pelos espaços mundiais.
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