O II Curso de Capacitação para educadores e profissionais da saúde do programa Jovem Consciente reuniu, em sua segunda etapa, realizado na noite da sexta-feira, dia 18, nas dependências do Clube Aliança, um grande número de servidores interessados em ampliar seus conhecimentos na temática da sexualidade. A palestra, ministrada pelo professor Valter Maestro, que voltou ao município a pedido dos participantes, abordou a questão das relações entre os jovens e os educadores na sociedade em que vivemos atualmente. O encontro foi promovido pelas Secretarias Municipais de Educação (Smed), Saúde (SMS) e Habitação e Assistência Social (Semhas) e a 16ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE).
Valther Maestro atua há 24 anos na área da educação e trabalhou com os profissionais a “Sexualidade na Adolescência – Desafios e Perspectivas”. O professor iniciou sua fala contando sobre a escolha de sua carreira. O jovem, que passou em primeiro lugar em medicina na USP, abriu mão do sonho da mãe para se tornar professor, seu desejo de adolescente. Maestro conta que seu primeiro emprego foi como professor de Geografia, no início da faculdade. Depois, fez doutorado e pós-doutorado na Espanha.
Professor Valther Maestro ( Fotos: Diana Graziela da Silva)
Ao falar sobre as instituições de ensino de hoje, Maestro comenta que na sala de aula existem três personagens. “O ‘dador’ de aulas, que apenas transmite o conteúdo, o professor, que profetisa, então é só ouvi-lo e segui-lo, e o educador, aquele que consegue transmitir a informação e transformá-la em conhecimento”. Para ele, a primeira coisa que um professor deveria fazer é contar a sua história, para que os educando pudessem lhe conhecer. E também ouvir seus alunos e, assim, conhecê-los melhor. “O primeiro dia de aula deveria ser um momento mágico e de conhecimento”, ressalta.
Durante a apresentação de slides, com textos e reflexões, o professor comenta a frase dita por uma aluna de 12 anos durante o II Fórum Internacional de Educação de Venâncio Aires. “É preciso ouvir com olhos”, disse a garota, ao citar a necessidade de se manter atento ao que os jovens tentam explicar. Nesse ponto, Maestro se refere à forma de pensar dos educadores. “Se continuarmos pensando no que aprendemos antigamente, na escola de antigamente, não vamos conseguir fazer uma escola melhor. E o que a gente mais precisa hoje é fazer alguma coisa”.
O professor chamou atenção para a importância de se diferenciar a informação da educação. “Educar é desenvolver potencialidades humanas, as habilidades, as competências, os procedimentos e as atitudes. É a partir da relação dialógica entre o educador e o educando que irá se desenvolver o conhecimento”, salienta.
O professor chamou atenção para a importância de se diferenciar a informação da educação. “Educar é desenvolver potencialidades humanas, as habilidades, as competências, os procedimentos e as atitudes. É a partir da relação dialógica entre o educador e o educando que irá se desenvolver o conhecimento”, salienta.
Valther comparou as gerações como analógica e digital. “A geração atual, digital, gosta de por a mão na massa, gosta de saber do que se trata antes de ler sobre o assunto. Os jovens de hoje gostam do contato físico, vivem empoleirados, e gostam de usar as tecnologias. Possuem foco no sucesso pessoal e, para isso, buscam referências. E essa referência deveria ser um professor. E nós temos todas as condições de voltar a ser referência, mas precisamos trabalhar para isto”, complementa.
Profissionais da educação e saúde lotaram o Clube Aliança para acompanhar a Capacitação
Ao falar de uma pesquisa feita com os jovens, o professor destaca dados importantes. “Eles querem autonomia e gostam de gente de bem com a vida. Querem obter resultados rápidos e desejam reconhecimento, buscam serem valorizados. São extremamente flexíveis, desde que você explique e não imponha as coisas”. Maestro comenta que os jovens não reconhecem muito bem a hierarquia, nem têm o mesmo tipo de respeito pela autoridade. ”Eles têm facilidade para se expressar e acham que podem dizer o que pensam. Querem ter responsabilidade e voz. Os jovens respeitam a hierarquia pela pessoa que você é”, diz.
Para o professor, a única forma de dialogar com os mais jovens é entender quem eles são. “As novas gerações são mais inseguras e por isso questionam mais. As crianças exigem mais dos adultos, querem saber o que está acontecendo ao seu redor. Além disso, eles são mais sensuais. O mundo social está interferindo diretamente no biológico e temos que aprender a lidar com isso”, revela. Para Maestro, as crianças precisam resgatar as brincadeiras antigas, os contos de fadas, a contação de histórias. Também existe a necessidade de se ter cuidado com a influência que os adolescentes geram nos menores.
“As fronteiras estão se abrindo. E toda banda larga será inútil se a mente for estreita”. O comercial criado por uma empresa de telefonia traduz as palavras do professor. “Não é que os jovens não tenham limites, é que falaram isso pra eles”, recorda. Nesse sentido, Valther Maestro comenta a criação de um projeto desenvolvido no país, chamado Escola do Brasil, que conversou com os jovens a respeito de seus sonhos. A grande maioria não soube responder. “O resultado nos leva a refletir sobre a perspectiva de futuro dos nossos jovens. Eles estão cheio de dúvidas e não só sobre a sexualidade. No topo da lista de suas preocupações estão a violência, o desemprego, as drogas e a fome. O ponto de partida para a solução desses problemas está em acabar com essa coisa de não ouvir. Eles enfrentam muitas cargas e julgamentos e a maioria não está preparada para isso, precisamos aprender juntos se quisermos ajudar uns aos outros”, frisa.
Valther Maestro com a coordenadora do projeto Jovem Consciente, Karina Paggi, e a vice-coordenadora Isadora Zir
Para a coordenadora do projeto Jovem Consciente, Karina Paggi, essa é uma oportunidade de se trocar experiências com alguém que compreende bem a relação entre os jovens. “Acho que o Valther é uma pessoa que sabe falar sobre algo muito importante ao educador e aos profissionais da saúde, que é como fazer um encontro com o adolescente. Às vezes, os projetos de orientação sexual não têm o efeito desejado, porque as pessoas acham que têm que trazer alguém de fora para falar com os jovens. Eles não percebem a relevância e o efeito que tem o convívio cotidiano, que é esse encontro com o adolescente dentro da sala de aula. Quem escolheu ser educador ou cuidador, escolheu cuidar de alguém”, finaliza.