No seu novo trabalho, “Home Computer Use and the Development of Human Capital” (“O Uso do Computador Doméstico e o Desenvolvimento de Capital Humano”), os economistas Ofer Malamud e Cristian Pop-Elechs observam que a “lacuna digital” dentro de países e entre estes pode ser vasta, e que grandes recursos governamentais e não governamentais estão sendo investidos para resolver o problema. Os autores dizem que nos Estados Unidos “menos da metade das crianças de famílias com renda anual inferior a US$ 25 mil (R$ 45 mil) mora em uma residência dotada de um computador, enquanto que 92% das crianças de famílias com renda superior a US$ 100 mil (R$ 180 mil) têm acesso a um computador doméstico”.
Portanto, seria lógico assumir que as crianças com acesso ao computador contam com uma grande vantagem em se tratando de adquirir capital humano, certo?
No entanto, a parte complicada é separar a causa do efeito. Conforme nós escrevemos no passado, crianças que crescem em casas com muitos livros têm maior probabilidade de se saírem melhor na escola do que aquelas de casas sem livros – mas não necessariamente porque elas passam o tempo inteiro lendo. Os dados sugerem que as crianças de casas dotadas de muitos livros possuem pais mais inteligentes.
Ao fazerem uma pergunta similar sobre computadores domésticos, Malamude e Pop-Eleches descobriram uma boa variável para explorarem. Segundo o sumário do trabalho dos economistas, eles coletaram dados de domicílios que participaram de um programa do governo romeno que distribuiu vales de acordo com a renda familiar. Esses vales subsidiaram a aquisição de um computador pessoal por família. No sumário do trabalho os autores ressaltaram as seguintes conclusões:
Nós demonstramos que as crianças de domicílios que receberam um vale apresentavam uma probabilidade bem maior de possuir e usar um computador do que aquelas de domicílios que não receberam nenhum vale. Os nossos principais resultados indicam que o uso de um computador doméstico têm efeitos positivos e negativos sobre o desenvolvimento de capital humano. As crianças que obtiveram um vale apresentaram notas escolares significativamente mais baixas em matemática, inglês e romeno, mas notas substancialmente mais altas em um teste de habilidades em informática e em avaliações auto-declaradas de fluência em computadores. Há também indicações de que o recebimento de um vale aumentou a capacidade cognitiva, conforme medida pelo teste Matrizes Progressivas de Raven. Nós não encontramos muita evidência de efeitos sobre resultados não cognitivos. Finalmente, a presença de regras impostas pelos pais em relação ao uso do computador e deveres de casa parece mitigar os efeitos da disponibilidade de um computador doméstico, o que sugere que o monitoramento e a supervisão por parte dos pais podem ser importantes fatores de mediação.
Portanto, embora o fato de possuir um computador em casa ajude as crianças a desenvolver habilidades de informática, ao que parece isso reduz as notas em matemática e em leitura.
Para muitos educadores da escola primária, essa conclusão não deve ser nenhuma surpresa. Apesar de todo esse papo de lacuna digital, muitos professores se empenham em manter os computadores longe das salas de aula desde que as crianças são bem novas, de forma a encorajá-las a desenvolver suas atividades sem esses equipamentos. A minha mulher e eu refletimos bastante sobre essa questão já que o nosso filho de nove anos de idade usa o seu computador para todos os tipos de atividades – não só para jogos e ligas de esporte fantasy, mas também para ler as notícias e pesquisar o que quer que o seu cérebro deseje, seja o assunto vulcões, Hitler ou presidentes canhotos. Ele também lê muitos livros – mas será que ele leria mais se não houvesse um computador em casa? E haveria mais benefício em tal caso? E será que a sua alfabetização digital garantirá a ele, no futuro, benefícios ainda não previstos?
*Stephen J. Dubner e Steven D. Levitt são os autores dos livros “Freakonomics: A Rogue Economist Explores the Hidden Side of Everything” (“Freakonomics: Um Economista Renegado Explora o Lado Oculto de Tudo”) e “SuperFreakonomics: Global Cooling, Patriotic Prostitutes, and Why Suicide Bombers Should Buy Life Insurance” (“SuperFreakonomics: Resfriamento Global, Prostitutas Patriotas e por que Homens-bomba Deveriam Fazer Seguro de Vida”). Para ler mais Freakonomics, visite o site (em inglês) www.freakonomics.com.
Portanto, seria lógico assumir que as crianças com acesso ao computador contam com uma grande vantagem em se tratando de adquirir capital humano, certo?
No entanto, a parte complicada é separar a causa do efeito. Conforme nós escrevemos no passado, crianças que crescem em casas com muitos livros têm maior probabilidade de se saírem melhor na escola do que aquelas de casas sem livros – mas não necessariamente porque elas passam o tempo inteiro lendo. Os dados sugerem que as crianças de casas dotadas de muitos livros possuem pais mais inteligentes.
Ao fazerem uma pergunta similar sobre computadores domésticos, Malamude e Pop-Eleches descobriram uma boa variável para explorarem. Segundo o sumário do trabalho dos economistas, eles coletaram dados de domicílios que participaram de um programa do governo romeno que distribuiu vales de acordo com a renda familiar. Esses vales subsidiaram a aquisição de um computador pessoal por família. No sumário do trabalho os autores ressaltaram as seguintes conclusões:
Nós demonstramos que as crianças de domicílios que receberam um vale apresentavam uma probabilidade bem maior de possuir e usar um computador do que aquelas de domicílios que não receberam nenhum vale. Os nossos principais resultados indicam que o uso de um computador doméstico têm efeitos positivos e negativos sobre o desenvolvimento de capital humano. As crianças que obtiveram um vale apresentaram notas escolares significativamente mais baixas em matemática, inglês e romeno, mas notas substancialmente mais altas em um teste de habilidades em informática e em avaliações auto-declaradas de fluência em computadores. Há também indicações de que o recebimento de um vale aumentou a capacidade cognitiva, conforme medida pelo teste Matrizes Progressivas de Raven. Nós não encontramos muita evidência de efeitos sobre resultados não cognitivos. Finalmente, a presença de regras impostas pelos pais em relação ao uso do computador e deveres de casa parece mitigar os efeitos da disponibilidade de um computador doméstico, o que sugere que o monitoramento e a supervisão por parte dos pais podem ser importantes fatores de mediação.
Portanto, embora o fato de possuir um computador em casa ajude as crianças a desenvolver habilidades de informática, ao que parece isso reduz as notas em matemática e em leitura.
Para muitos educadores da escola primária, essa conclusão não deve ser nenhuma surpresa. Apesar de todo esse papo de lacuna digital, muitos professores se empenham em manter os computadores longe das salas de aula desde que as crianças são bem novas, de forma a encorajá-las a desenvolver suas atividades sem esses equipamentos. A minha mulher e eu refletimos bastante sobre essa questão já que o nosso filho de nove anos de idade usa o seu computador para todos os tipos de atividades – não só para jogos e ligas de esporte fantasy, mas também para ler as notícias e pesquisar o que quer que o seu cérebro deseje, seja o assunto vulcões, Hitler ou presidentes canhotos. Ele também lê muitos livros – mas será que ele leria mais se não houvesse um computador em casa? E haveria mais benefício em tal caso? E será que a sua alfabetização digital garantirá a ele, no futuro, benefícios ainda não previstos?
*Stephen J. Dubner e Steven D. Levitt são os autores dos livros “Freakonomics: A Rogue Economist Explores the Hidden Side of Everything” (“Freakonomics: Um Economista Renegado Explora o Lado Oculto de Tudo”) e “SuperFreakonomics: Global Cooling, Patriotic Prostitutes, and Why Suicide Bombers Should Buy Life Insurance” (“SuperFreakonomics: Resfriamento Global, Prostitutas Patriotas e por que Homens-bomba Deveriam Fazer Seguro de Vida”). Para ler mais Freakonomics, visite o site (em inglês) www.freakonomics.com.
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