Recém-empossado, reitor da UFRJ defende o fim do vestibular e diz que exame unificado ajuda os mais carentes.
Carlos Antonio Levi, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Reitor recém-empossado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Antonio Levi é um entusiasta do fim do vestibular. A prova de ingresso será abolida a partir deste ano e os alunos serão selecionados pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), a partir das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Para ele, essa é uma forma de democratizar o acesso à instituição. A outra é ampliar o número de alunos da graduação no turno da noite. Hoje, 4 mil estudantes estão em cursos noturnos - mil a mais do que em 2007. A meta é chegar a 8 mil em 2020.
A criação de vagas no período da noite também é uma estratégia para atrair faculdades para o câmpus do Fundão. Cursos como Direito, Comunicação e Ciências Sociais estão espalhados em prédios históricos na região central e na Urca. Levi é da corrente que prefere dar outros fins a esses edifícios - gostaria de vê-los transformados em centros culturais e museus. A transferência esbarra na resistência dos departamentos.
Para receber os novos estudantes, a segurança na Ilha do Fundão será reforçada. O câmpus ganhará portões e monitoramento eletrônico do acesso de carros. Até os anos de 1990, o câmpus era usado como local de desova de corpos, abandono de carros roubados e até rota para tráfico e contrabando por causa do acesso pela Baía de Guanabara. Leia, a seguir, a entrevista de Levi ao Estado:
O senhor assume a reitoria da UFRJ no momento em que a instituição decide abolir o vestibular e aderir ao Sisu. Como o senhor vê essa mudança?
Esse processo, ao meu ver, é mais democrático e mais inclusivo. O que se observava era uma autoexclusão dos alunos oriundos das camadas mais carentes da sociedade, que se julgavam de antemão impedidos de entrar na nossa universidade (o modelo de vestibular anterior era por provas discursivas). Tenho certeza de que o exame unificado amplia de forma significativa as chances desses estudantes.
No ano passado, a UFRJ reservou, pela primeira vez, 20% das vagas para alunos egressos de escolas públicas e por muito pouco não aprovou a cota étnica. O senhor acredita que a UFRJ possa caminhar para ter uma cota para negros?
Essa discussão vem sendo bastante amadurecida nos órgãos de deliberação da universidade. Mas eu, particularmente, considero que ainda estamos em uma etapa em que a exclusão maior se dá com o contingente enorme da nossa juventude que não tem a chance de entrar no ensino superior. A nossa cobertura atualmente, incluindo todas as vagas públicas e privadas da educação superior, não atinge a 14% do contingente de jovens na faixa etária universitária. Estamos falando de 86% de excluídos. Entendemos que a reserva para egressos de escolas da rede pública, com corte de renda de um salário mínimo per capita, também incorpora um componente étnico das minorias desfavorecidas.
Qual outra forma de democratizar esse acesso?
Nós temos nos empenhado em aperfeiçoar a expansão dos cursos noturnos. Hoje, dos 35 mil alunos matriculados, temos cerca de 4 mil nos cursos noturnos. A meta é dobrar esse contingente, perseguindo a lógica de que essa expansão é a que pode ser realizada de forma mais rápida e com investimento reduzido, já que os espaços já estão disponíveis.
Qual é a grande dificuldade? É a questão da segurança?
Ao contrário. Temos investido muito. A iluminação do câmpus atingiu um patamar bastante adequado. E os indicadores relacionados a eventuais ocorrências relativas à segurança são quase nulos. Até o fim dos anos de 1990, a região estava bastante degradada. Isso se reverteu completamente. Eu não me lembro da última vez que houve ocorrência policial. Nosso padrão de segurança é bem acima da média da cidade como um todo e não é diferente de regiões como Ipanema.
Que investimentos estão sendo feitos nessa área?
Está prevista agora a implementação de um sistema eletrônico de monitoramento do acesso de veículos na cidade universitária. Será feito o cadastramento dos usuários e isso permitirá um controle eficiente do acesso ao câmpus, com cancela eletrônica. E estamos planejando a instalação de portões robustos. Nós não queremos fechar a cidade universitária - não devemos correr o risco de torná-la uma cidadela fechada, fortemente protegida, porque acreditamos que a segurança vem é do uso mais intenso e a integração com a cidade no nosso entorno. O portão tem o efeito psicológico, de se entrar em um território com algum nível de controle. E esses portões poderiam ser acionados caso houvesse algum tipo de necessidade.
Quais são os cursos que funcionarão no período da noite?
Essa é uma negociação que envolve os departamentos. Estou investindo esforços e negociações com a Faculdade Nacional de Direito, que já tem bela oferta de vagas no seu horário noturno, mas lá na Praça da República (centro). Estou empenhado para que as atividades não sejam transferidas, mas que a faculdade também possa abrir na cidade universitária um curso noturno.
Mais algum?
A faculdade de Administração, que decidiu que deixará o Palácio Universitário, que fica na Urca, já oferece curso de Ciências Contábeis no período noturno na cidade universitária, antes mesmo da transferência. O Instituto de Economia, por sua vez, abriu um curso noturno na Urca, e eu vou me empenhar para trazer esse curso para cá, independentemente da posição de eles se transferirem ou não. Enfim, há um grande movimento para se concretizar a ampliação do nosso horário noturno.
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